terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Os Desigrejados

                                     

                                       Os Desigrejados
Para mim resta pouca dúvida de que a igreja institucional e organizada está hoje no centro de acirradas discussões em praticamente todos os quartéis da cristandade, e mesmo fora dela. O surgimento de milhares de denominações evangélicas, o poderio apostólico de igrejas neopentecostais, a institucionalização e secularização das denominações históricas, a profissionalização do ministério pastoral, a busca de diplomas teológicos reconhecidos pelo estado, a variedade infindável de métodos de crescimento de igrejas, de sucesso pastoral, os escândalos ocorridos nas igrejas, a falta de crescimento das igrejas tradicionais, o fracasso das igrejas emergentes – tudo isto tem levado muitos a se desencantarem com a igreja institucional e organizada.

Alguns simplesmente abandonaram a igreja e a fé. Mas, outros, querem abandonar apenas a igreja e manter a fé. Querem ser cristãos, mas sem a igreja. Muitos destes estão apenas decepcionados com a igreja institucional e tentam continuar a ser cristãos sem pertencer ou frequentar nenhuma. Todavia, existem aqueles que, além de não mais frequentarem a igreja, tomaram esta bandeira e passaram a defender abertamente o fracasso total da igreja organizada, a necessidade de um cristianismo sem igreja e a necessidade de sairmos da igreja para podermos encontrar Deus. Estas idéias vêm sendo veiculadas através de livros, palestras e da mídia. Viraram um movimento que cresce a cada dia. São os desigrejados.

Muitos livros recentes têm defendido a desigrejação do cristianismo (*). Em linhas gerais, os desigrejados defendem os seguintes pontos.

1) Cristo não deixou qualquer forma de igreja organizada e institucional.

2) Já nos primeiros séculos os cristãos se afastaram dos ensinos de Jesus, organizando-se como uma instituição, a Igreja, criando estruturas, inventando ofícios para substituir os carismas, elaborando hierarquias para proteger e defender a própria instituição, e de tal maneira se organizaram que acabaram deixando Deus de fora. Com a influência da filosofia grega na teologia e a oficialização do cristianismo por Constantino, a igreja corrompeu-se completamente.

3) Apesar da Reforma ter se levantado contra esta corrupção, os protestantes e evangélicos acabaram caindo nos mesmíssimos erros, ao criarem denominações organizadas, sistemas interligados de hierarquia e processos de manutenção do sistema, como a disciplina e a exclusão dos dissidentes, e ao elaborarem confissões de fé, catecismos e declarações de fé, que engessaram a mensagem de Jesus e impediram o livre pensamento teológico.

4) A igreja verdadeira não tem templos, cultos regulares aos domingos, tesouraria, hierarquia, ofícios, ofertas, dízimos, clero oficial, confissões de fé, rol de membros, propriedades, escolas, seminários.

5) De acordo com Jesus, onde estiverem dois ou três que crêem nele, ali está a igreja, pois Cristo está com eles, conforme prometeu em Mateus 18. Assim, se dois ou três amigos cristãos se encontrarem no Frans Café numa sexta a noite para falar sobre as lições espirituais do filme O Livro de Eli, por exemplo, ali é a igreja, não sendo necessário absolutamente mais nada do tipo ir à igreja no domingo ou pertencer a uma igreja organizada.

6) A igreja, como organização humana, tem falhado e caído em muitos erros, pecados e escândalos, e prestado um desserviço ao Evangelho. Precisamos sair dela para podermos encontrar a Deus.

Eu concordo com vários dos pontos defendidos pelos desigrejados. Infelizmente, eles estão certos quanto ao fato de que muitos evangélicos confundem a igreja organizada com a igreja de Cristo e têm lutado com unhas e dentes para defender sua denominação e sua igreja, mesmo quando estas não representam genuinamente os valores da Igreja de Cristo. Concordo também que a igreja de Cristo não precisa de templos construídos e nem de todo o aparato necessário para sua manutenção. Ela, na verdade, subsistiu de forma vigorosa nos quatro primeiros séculos se reunindo em casas, cavernas, vales, campos, e até cemitérios. Os templos cristãos só foram erigidos após a oficialização do Cristianismo por Constantino, no séc. IV.
Os desigrejados estão certos ao criticar os sistemas de defesa criados para perpetuar as estruturas e a hierarquia das igrejas organizadas, esquecendo-se das pessoas e dando prioridade à organização. Concordo com eles que não podemos identificar a igreja com cultos organizados, programações sem fim durante a semana, cargos e funções como superintendente de Escola Dominical, organizações internas como uniões de moços, adolescentes, senhoras e homens, e métodos como células, encontros de casais e de jovens, e por ai vai. E também estou de acordo com a constatação de que a igreja institucional tem cometido muitos erros no decorrer de sua longa história.

Dito isto, pergunto se ainda assim está correto abandonarmos a igreja institucional e seguirmos um cristianismo em vôo solo. Pergunto ainda se os desigrejados não estão jogando fora o bebê junto com a água suja da banheira. Ao final, parece que a revolta deles não é somente contra a institucionalização da igreja, mas contra qualquer coisa que imponha limites ou restrições à sua maneira de pensar e de agir. Fico com a impressão que eles querem se livrar da igreja para poderem ser cristãos do jeito que entendem, acreditarem no que quiserem – sendo livres pensadores sem conclusões ou convicções definidas – fazerem o que quiserem, para poderem experimentar de tudo na vida sem receio de penalizações e correções. Esse tipo de atitude anti-instituição, antidisciplina, anti-regras, anti-autoridade, antilimites de todo tipo se encaixa perfeitamente na mentalidade secular e revolucionária de nosso tempo, que entra nas igrejas travestida de cristianismo.

É verdade que Jesus não deixou uma igreja institucionalizada aqui neste mundo. Todavia, ele disse algumas coisas sobre a igreja que levaram seus discípulos a se organizarem em comunidades ainda no período apostólico e muito antes de Constantino.

1) Jesus disse aos discípulos que sua igreja seria edificada sobre a declaração de Pedro, que ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16.15-19). A igreja foi fundada sobre esta pedra, que é a verdade sobre a pessoa de Jesus (cf. 1Pd 2.4-8). O que se desviar desta verdade – a divindade e exclusividade da pessoa de Cristo – não é igreja cristã. Não admira que os apóstolos estivessem prontos a rejeitar os livre-pensadores de sua época, que queriam dar uma outra interpretação à pessoa e obra de Cristo diferente daquela que eles receberam do próprio Cristo. As igrejas foram instruídas pelos apóstolos a rejeitar os livre-pensadores como os gnósticos e judaizantes, e libertinos desobedientes, como os seguidores de Balaão e os nicolaítas (cf. 2Jo 10; Rm 16.17; 1Co 5.11; 2Ts 3.6; 3.14; Tt 3.10; Jd 4; Ap 2.14; 2.6,15). Fica praticamente impossível nos mantermos sobre a rocha, Cristo, e sobre a tradição dos apóstolos registrada nas Escrituras, sem sermos igreja, onde somos ensinados, corrigidos, admoestados, advertidos, confirmados, e onde os que se desviam da verdade apostólica são rejeitados.

2) A declaração de Jesus acima, que a sua igreja se ergue sobre a confissão acerca de sua Pessoa, nos mostra a ligação estreita, orgânica e indissolúvel entre ele e sua igreja. Em outro lugar, ele ilustrou esta relação com a figura da videira e seus galhos (João 15). Esta união foi muito bem compreendida pelos seus discípulos, que a compararam à relação entre a cabeça e o corpo (Ef 1.22-23), a relação marido e mulher (Ef 5.22-33) e entre o edifício e a pedra sobre o qual ele se assenta (1Pd 2.4-8). Os desigrejados querem Cristo, mas não querem sua igreja. Querem o noivo, mas rejeitam sua noiva. Mas, aquilo que Deus ajuntou, não o separe o homem. Não podemos ter um sem o outro.

3) Jesus instituiu também o que chamamos de processo disciplinar, quando ensinou aos seus discípulos de que maneira deveriam proceder no caso de um irmão que caiu em pecado (Mt 18.15-20). Após repetidas advertências em particular, o irmão faltoso, porém endurecido, deveria ser excluído da “igreja” – pois é, Jesus usou o termo – e não deveria mais ser tratado como parte dela (Mt 18.17). Os apóstolos entenderam isto muito bem, pois encontramos em suas cartas dezenas de advertências às igrejas que eles organizaram para que se afastassem e excluíssem os que não quisessem se arrepender dos seus pecados e que não andassem de acordo com a verdade apostólica. Um bom exemplo disto é a exclusão do “irmão” imoral da igreja de Corinto (1Co 5). Não entendo como isto pode ser feito numa fraternidade informal e livre que se reúne para bebericar café nas sextas à noite e discutir assuntos culturais, onde não existe a consciência de pertencemos a um corpo que se guia conforme as regras estabelecidas por Cristo.

4) Jesus determinou que seus seguidores fizessem discípulos em todo o mundo, e que os batizassem e ensinassem a eles tudo o que ele havia mandado (Mt 28.19-20). Os discípulos entenderam isto muito bem. Eles organizaram os convertidos em igrejas, os quais eram batizados e instruídos no ensino apostólico. Eles estabeleceram líderes espirituais sobre estas igrejas, que eram responsáveis por instruir os convertidos, advertir os faltosos e cuidar dos necessitados (At 6.1-6; At 14.23). Definiram claramente o perfil destes líderes e suas funções, que iam desde o governo espiritual das comunidades até a oração pelos enfermos (1Tm 31-13; Tt 1.5-9; Tg 5.14).
5) Não demorou também para que os cristãos apostólicos elaborassem as primeiras declarações ou confissões de fé que encontramos (cf. Rm 10.9; 1Jo 4.15; At 8.36-37; Fp 2.5-11; etc.), que serviam de base para a catequese e instrução dos novos convertidos, e para examinarem e rejeitarem os falsos mestres. Veja, por exemplo, João usando uma destas declarações para repelir livre-pensadores gnósticos das igrejas da Ásia (2Jo 7-10; 1Jo 4.1-3). Ainda no período apostólico já encontramos sinais de que as igrejas haviam se organizado e estruturado, tendo presbíteros, diáconos, mestres e guias, uma ordem de viúvas e ainda presbitérios (1Tm 3.1; 5.17,19; Tt 1.5; Fp 1.1; 1Tm 3.8,12; 1Tm 5.9; 1Tm 4.14). O exemplo mais antigo que temos desta organização é a reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém para tratar de um caso de doutrina – a inclusão dos gentios na igreja e as condições para que houvesse comunhão com os judeus convertidos (At 15.1-6). A decisão deste que ficou conhecido como o “concílio de Jerusalém” foi levada para ser obedecida nas demais igrejas (At 16.4), mostrando que havia desde cedo uma rede hierárquica entre as igrejas apostólicas, poucos anos depois de Pentecostes e muitos anos antes de Constantino.

6) Jesus também mandou que seus discípulos se reunissem regularmente para comer o pão e beber o vinho em memória dele (Lc 22.14-20). Os apóstolos seguiram a ordem, e reuniam-se regularmente para celebrar a Ceia (At 2.42; 20.7; 1Co 10.16). Todavia, dada à natureza da Ceia, cedo introduziram normas para a participação nela, como fica evidente no caso da igreja de Corinto (1Co 11.23-34). Não sei direito como os desigrejados celebram a Ceia, mas deve ser difícil fazer isto sem que estejamos na companhia de irmãos que partilham da mesma fé e que crêem a mesma coisa sobre o Senhor.

É curioso que a passagem predileta dos desigrejados – “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20) – foi proferida por Jesus no contexto da igreja organizada. Estes dois ou três que ele menciona são os dois ou três que vão tentar ganhar o irmão faltoso e reconduzi-lo à comunhão da igreja (Mt 18.16). Ou seja, são os dois ou três que estão agindo para preservar a pureza da igreja como corpo, e não dois ou três que se separam dos demais e resolvem fazer sua própria igrejinha informal ou seguir carreira solo como cristãos.

O meu ponto é este: que muito antes do período pós-apostólico, da intrusão da filosofia grega na teologia da Igreja e do decreto de Constantino – os três marcos que segundo os desigrejados são responsáveis pela corrupção da igreja institucional – a igreja de Cristo já estava organizada, com seus ofícios, hierarquia, sistema disciplinar, funcionamento regular, credos e confissões. A ponto de Paulo se referir a ela como “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3.15) e o autor de Hebreus repreender os que deixavam de se congregar com os demais cristãos (Hb 10.25). O livro de Atos faz diversas menções das “igrejas”, referindo-se a elas como corpos definidos e organizados nas cidades (cf. At 15.41; 16.5; veja também Rm 16.4,16; 1Co 7.17; 11.16; 14.33; 16.1; etc. – a relação é muito grande).

No final, fico com a impressão que os desigrejados, na verdade, não são contra a igreja organizada meramente porque desejam uma forma mais pura de Cristianismo, mais próxima da forma original – pois esta forma original já nasceu organizada e estruturada, nos Evangelhos e no restante do Novo Testamento. Acho que eles querem mesmo é liberdade para serem cristãos do jeito deles, acreditar no que quiserem e viver do jeito que acham correto, sem ter que prestar contas a ninguém. Pertencer a uma igreja organizada, especialmente àquelas que historicamente são confessionais e que têm autoridades constituídas, conselhos e concílios, significa submeter nossas idéias e nossa maneira de viver ao crivo do Evangelho, conforme entendido pelo Cristianismo histórico. Para muitos, isto é pedir demais.

Eu não tenho ilusões quanto ao estado atual da igreja. Ela é imperfeita e continuará assim enquanto eu for membro dela. A teologia Reformada não deixa dúvidas quanto ao estado de imperfeição, corrupção, falibilidade e miséria em que a igreja militante se encontra no presente, enquanto aguarda a vinda do Senhor Jesus, ocasião em que se tornará igreja triunfante. Ao mesmo tempo, ensina que não podemos ser cristãos sem ela. Que apesar de tudo, precisamos uns dos outros, precisamos da pregação da Palavra, da disciplina e dos sacramentos, da comunhão de irmãos e dos cultos regulares.
Cristianismo sem igreja é uma outra religião, a religião individualista dos livre-pensadores, eternamente em dúvida, incapazes de levar cativos seus pensamentos à obediência de Cristo
Materia Extraida do Blog: O Tempora O Mores
Postado por Augustus nicodemos
Em Cristo Jesus 
Kleber de sá

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Regeneração

A Definição do Novo Nascimento

William Plumer

Do começo ao fim, a salvação é inteiramente pela graça. Paulo disse: “Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros. Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tt 3.3-6). Esta passagem deixa claro que, pela graça e mediação de nosso Senhor Jesus Cristo, o Espírito Santo é enviado para regenerar nossa natureza e realizar em nós o novo nascimento. O perdão salva um pecador da maldição da Lei e do lago de fogo; a aceitação por meio de Cristo lhe concede a entrada no céu; mas na regeneração o domínio do pecado começa a ser destruído, e a alma passa a ser ajustada para o uso do Senhor.

O novo nascimento é um grande mistério, mas as Escrituras se referem a ele com persistência. “O lavar regenerador” é tão necessário quanto o lavar do sangue de Cristo. “O lavar renovador do Espírito Santo” é tão essencial quanto a “justificação que dá vida”. No espaço de quatro versículos, nosso Senhor declara três vezes a importância do novo nascimento para que alguém seja salvo. Escute o que Ele diz: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus... Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo” (Jo 3.3, 5, 7). O campo de pousio deve ser arado, pois, do contrário, a boa semente não é arraigada em nosso coração. A oliveira brava deve ser enxertada na boa oliveira ou permanece sem valor. Toda a Escritura ensina essa doutrina. Cristo não via como surpreendente o fato de que um vil pecador tinha de passar por uma grande mudança espiritual, antes de tornar-se idôneo para servir a Deus.

Talvez não exista um erro mais absurdo do que o ensino de que o batismo com água é a regeneração sobre a qual Jesus Cristo e seus apóstolos insistiam. Quando os homens confundem “o lavar regenerador” com o lavar por meio da água, estão plenamente prontos a seguir (e, de fato, já estão seguindo) os passos daqueles que confundiram a “circuncisão... que é somente na carne” com a circuncisão que é “do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus” (Rm 2.29). Por semelhante modo, talvez não exista um erro mais prejudicial do que este. É monstruoso que tal erro e loucura sejam ensinados em países onde a Palavra de Deus é tão conhecida.

Alguns acrescentam ao batismo uma mudança exterior e insistem que isso deve ser admitido como suficiente. Supondo que isto fosse o que Cristo e seus apóstolos queriam dizer, seria impossível defendê-los da acusação de usar linguagem muito enigmática para comunicar uma idéia tão simples. Entretanto, tal crença nunca foi acolhida por aqueles que têm um respeito apropriado pela Palavra de Deus. Portanto, este assunto não exigirá mais atenção neste momento.

Teólogos sensatos têm concordado notavelmente em nos dizer o que é a regeneração. O Dr. Witherspoon disse: “O novo nascimento envolve uma mudança total; alcança a pessoa por inteiro, não alguma particularidade, mas toda a pessoa, sem exceção”. Ele mostra de forma detalhada que o novo nascimento não é parcial, externo, imperfeito, e sim total, interno, essencial, completo e sobrenatural.

Charnock disse: “A regeneração é uma mudança imensa e poderosa realizada na alma pela obra eficaz do Espírito Santo, na qual um princípio vital, um novo comportamento, a Lei de Deus e uma natureza divina são colocados e formados no coração, capacitando a pessoa a agir com santidade, de um modo que agrada a Deus, e fazendo-a crescer nisto para a glória eterna”.

O Dr. Thomas Scott cita, e aprova, outra definição, mas não revela o nome do autor. Ele disse: “A regeneração pode ser definida como uma mudança realizada pelo poder do Espírito Santo no entendimento, na vontade e nas afeições de um pecador, o que consiste no início de um novo tipo de vida e dá outra direção à sua opinião, aos seus desejos, às suas buscas e à sua conduta”.

Embora esta mudança seja chamada por vários nomes, a doutrina bíblica referente a ela é uniforme. Às vezes, é chamada de santa vocação, criação, nova criação, transportar, circuncisão do coração, ressurreição. Entretanto, seja qual for o nome, o verdadeiro sentido é comunicado em toda a Escritura, em termos muito solenes e como um rico fruto da graça de Deus. Assim diz Paulo: “Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim...” (Gl 1.15-16). Mais uma vez: “[Deus] que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2 Tm 1.9). E Pedro diz: “O Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória” (1 Pe 5.10).

As igrejas mais puras jamais duvidaram da necessidade desta mudança. Elas também concordam quanto à natureza de tal mudança. A Assembléia de Westminster ensina que Deus “se agrada em chamar [os eleitos], de um modo eficaz, no tempo que Ele estabeleceu, por meio de sua Palavra e Espírito, do estado de pecado e morte, no qual, por natureza, encontram-se, para a graça e salvação por intermédio de Jesus Cristo. Deus faz isso iluminando a mente deles, de forma espiritual e salvífica, para que entendam as coisas de Deus; tirando deles seu coração de pedra e dando-lhes um coração de carne; renovando-lhes a vontade; induzindo-os, por seu imenso poder, àquilo que é bom e levando-os com eficácia a Jesus Cristo. Mesmo quando se chegam a Cristo o mais livremente possível, ainda estão recebendo, pela graça de Deus, esta disposição”.

A Segunda Confissão Helvética diz: “Na regeneração, o entendimento é iluminado pelo Espírito Santo, para que possa compreender os mistérios e a vontade de Deus. E a vontade em si mesma não somente é mudada pelo Espírito, mas também é dotada de habilidades, de modo que, por iniciativa própria, possa querer e fazer o bem”. E cita como prova Romanos 8.4; Jeremias 31.33; Ezequiel 36.27; João 8.36; Filipenses 1.6, 29; 2.13.

O Sínodo de Dort diz: “Esta graça regeneradora de Deus não age nos homens como se eles fossem seres inanimados; não anula a vontade nem as características da vontade deles; e não a constrange com violência, mas vivifica espiritualmente, cura, corrige e, com poder, embora gentilmente, submete-a; a fim de que, onde a rebeldia da carne e a obstinação antes dominavam sem controle, agora comece a reinar uma obediência disposta e sincera ao Espírito. Esta mudança constitui o resgate e a liberdade verdadeira e espiritual de nossa vontade...”

A verdade é que, se ignoramos a regeneração, a única esperança de um pecador ser novamente santo ou feliz acaba para sempre. A Igreja da Irlanda defende que “todos os eleitos de Deus são, em seu tempo, inseparavelmente unidos a Cristo, pela influência vital e eficaz do Espírito Santo, procedente dEle, como cabeça, para cada membro verdadeiro de seu corpo espiritual. Assim, tendo sido feito um com Cristo, os eleitos são verdadeiramente regenerados e transformados em co-participantes dEle, bem como de todos os seus benefícios”. De fato, nada aflige mais uma pessoa que considera, de forma correta, o estado de perdição em que se encontra do que ver destruída ou seriamente abalada a esperança que brota da doutrina da regeneração... Cada homem que já teve seus olhos abertos para contemplar sua própria miséria e vileza concordará com a declaração de Usher: “Não é uma pequena transformação que salva o homem, não, nem toda a moralidade do mundo, nem todas as graças comuns do espírito de Deus, nem a mudança externa da vida; tudo isso não é suficiente, a menos que sejamos vivificados e que uma nova vida seja produzida em nós”.

Em sua idade avançada, quando não enxergava mais o suficiente para ler, John Newton ouviu alguém repetir o seguinte texto: “Pela graça de Deus, sou o que sou” (1 Co 15.10). Ele permaneceu calado por alguns instantes e, como se falasse consigo mesmo, disse: “Eu não sou o que devo ser. Ah! quão imperfeito sou! Não sou o que desejo ser. Abomino o que é mau e anelo apegar-me ao que é bom. Não sou o que espero ser. Logo me despirei da mortalidade e, com ela, de todo pecado e imperfeição. Embora não seja o que devo ser, o que desejo ser e o que espero ser, ainda posso dizer, em verdade, que não sou o que fui outrora, escravo do pecado e de Satanás; posso, sinceramente, unir-me ao apóstolo e reconhecer: ‘Pela graça de Deus, sou o que sou’”.

Nosso segundo nascimento nos leva a um estado de graça. É uma das misericórdias mais ricas da aliança de Deus. Quando uma pessoa nasce de novo, acontece um ataque fatal ao reino de Satanás no coração, pois “o que é nascido do Espírito é espírito” (Jo 3.6). Esta é uma obra de poder espantoso! O Sínodo de Dort teve um bom motivo para ensinar que “Deus, ao regenerar um homem, usa uma força absoluta por meio da qual Ele é capaz de, poderosa e infalivelmente, submeter e redirecionar a vontade do homem para a fé e a conversão”. Paulo usou todas as palavras fortes que ele conhecia para nos ensinar que somos renovados por poder, por uma força surpreendente. Ele orou para que os crentes de Éfeso soubessem “qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos” (Ef 1.19-20). Não conhecemos poder maior do que a força que realizou a ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Também o mesmo poder converte a alma...
O Dr. Nevins diz: “Alguns pensam e descrevem a salvação de uma alma como algo fácil — a ação de subjugar a vontade — a mudança de um coração. Fácil? É a maior obra de Deus... Deus, ao salvar uma alma, empregou uma força maior do que a necessária para criar muitos mundos”. Em seu livro Views in Theology, o Dr. Beecher admite: “O poder de Deus na regeneração está entre as maiores demonstrações de sua onipotência na história do universo. Quando a formosa criação surgiu da mão de Deus, em frescor de beleza, as estrelas matutinas cantaram juntas, e todos os filhos de Deus gritaram de alegria. Entretanto, canções mais encantadoras celebrarão e brados mais sonoros se farão ouvir na consumação da redenção pelo poder do Espírito de Deus...”

Materia extraida do site;Editora Fiel
Em Cristo Jesus
Kleber de sá

domingo, 5 de dezembro de 2010

Manejando Bem a Palavra da Verdade

                                                                                                 David Murray

Sombras Iluminadas ;Pregando a Cristo com Base no Antigo Testamento
Dr. David Murray é professor de Antigo Testamento e de Teologia Prática. Murray é nascido em Glasgow, na Escócia, onde foi ordenado ministro evangélico. Obteve seu doutorado em ministério pelo Reformation International Theological Seminary. Atualmente é um dos catedráticos do PRTS, nos EUA. Murray é casado com Shona, com quem tem quatro filhos.



Sem dúvida, a pregação do Antigo Testamento passa por uma crise muito difundida hoje; conseqüentemente, a pregação de Cristo com base no Antigo Testamento está na mesma situação. Prega-se cada vez menos sermões a respeito dessa parte da Bíblia, e aqueles que são pregados não parecem exigir o mesmo interesse ou respeito que os sermões do Novo Testamento exigem.

Várias pesquisas têm constatado que apenas 20% dos sermões cristãos dizem respeito ao Antigo Testamento. Michael Duduit, editor da revista Preaching (Pregação), lamentou o fato de receber “anualmente centenas de manuscritos de sermões de ministros de várias denominações protestantes... e menos de um décimo dos sermões enviados à Preaching se baseia em textos do Antigo Testamento”.
1 Os relativamente poucos sermões do Antigo Testamento pregados são, com frequência, tópicos em vez de textuais ou contextuais.

Esse desequilíbrio na dieta espiritual da maioria dos cristãos é uma das principais razões dos problemas espirituais da igreja moderna e do cristão moderno. Uma pergunta desafiadora foi apresentada por Gleason Archer: “Como os pastores cristãos esperam alimentar seu rebanho com uma dieta espiritual balanceada, se negligenciam completamente os 39 livros das Escrituras Sagradas dos quais Cristo e todos os autores do Novo Testamento receberam sua própria nutrição espiritual?”
2

Consideraremos brevemente oito razões que estão por trás desse infortúnio.
1. Liberalismo

Em primeiro lugar, o Antigo Testamento tem sido alvo de prolongado e contínuo ataque crítico da parte de eruditos liberais. Isso tem abalado a confiança tanto de pregadores como de ouvintes quanto a essa parte das Escrituras Sagradas.

2. Ignorância

É quase impossível pregar sobre passagens extensas do Antigo Testamento sem um conhecimento do contexto histórico e do ambiente geográfico. Contudo, houve um tempo em que esse conhecimento era difundido em muitas igrejas, mas agora muitos ouvintes sabem pouco ou nada sobre história bíblica, e os pregadores acham difícil torná-la interessante para seus ouvintes.

3. Relevância

Além disso, os detalhes históricos e geográficos parecem distanciar o pregador e o ouvinte da realidade moderna. O fato é que estamos a aproximadamente 6.000 anos do acontecimento mais antigo registrado no Antigo Testamento e a mais de 2.000 anos de seu acontecimento mais recente. Isso abre um “intervalo de relevância” na mente de muitos pregadores e ouvintes da atualidade. Tal situação é intensificada pelo fato de o Novo Testamento deixar claro que muitas práticas do Antigo Testamento acabaram. Então, por que estudá-las?

4. Dispensacionalismo

A teologia dispensacionalista, com sua divisão rígida das Escrituras em eras e métodos de salvação diferentes, tende a relegar o Antigo Testamento a um papel inferior na vida da igreja e do cristão individual. Entretanto, é surpreendente quantos pregadores mesmo nos círculos reformados possuem um dispensacionalismo latente, que se torna óbvio em sua  opinião confusa e inconsistente da salvação no Antigo Testamento – contendo idéias que vão desde a salvação por obras, bem como a salvação pela fé nos ritos sacrificiais, até à salvação mediante uma fé geral em Deus acompanhada de uma tentativa sincera de obedecer à sua lei. Essas opiniões legalistas da salvação no Antigo Testamento produzem inevitavelmente menos pregação dessa parte das Escrituras e, certamente, menos pregação de Cristo e da sua graça com base no Antigo Testamento.

5. Prática Ruim

Temos de admitir que uma das razões por que tantas pessoas, até em igrejas reformadas e evangélicas, minimizam a Cristo no Antigo Testamento é que elas têm visto muitos maus exemplos de pregação sobre o Salvador alicerçada em textos do Antigo Testamento – exemplos que expõem toda a prática da proclamação da Palavra ao ridículo justo de um mundo zombeteiro e cínico. Contudo, a prática ruim de alguns não deveria levar à falta de prática de outros.

6. Preguiça

Pregar Cristo com base no Antigo Testamento é mais exigente do que fazê-lo com base no Novo Testamento. Preparar e apresentar sermões do Antigo Testamento centrados em Cristo, de maneira compreensível e atrativa, requer mais trabalho mental e espiritual – especialmente quando não temos prática na arte. Para um pastor ocupado na preparação de dois ou três sermões por semana, os caminhos já bem trilhados do Novo Testamento parecem mais convidativos do que Levítico, 2 Crônicas ou Naum!

7. Falta de Exemplos

Muitos pastores sinceros e dedicados querem pregar sobre textos do Antigo Testamento e sentem-se culpados por sua falha em fazê-lo. Entretanto, quando olham ao seu redor, procurando modelos de pregação que possam seguir, eles encontram poucos homens de cuja prática podem aprender. Então, na falta da prática estimulante, eles procuram princípios de interpretação que lhes ensine a prática; mas isso também está faltando.

8. Credibilidade Acadêmica

Finalmente, existe nos círculos acadêmicos (até entre os reformados e evangélicos) uma tendência de minimizar o lugar do Filho de Deus no Antigo Testamento. Cristo está sendo excluído das muitas passagens do Antigo Testamento, com a aprovação da comunidade erudita. E poucos são bastante corajosos para correr o risco e questionar essa tendência. Pouco nos surpreende o fato de que pregadores se afastam do Antigo Testamento e se dirigem ao Novo Testamento a fim de “encontrar Jesus” e “pregar a Cristo crucificado”.

Então, qual é a solução para essa crise na pregação do Antigo testamento? Como podemos lutar contra essas tendências e até invertê-las? Bem, temos de atacar em todas as frentes. Devemos combater os liberais, ensinar às nossas congregações história e geografia bíblicas, ao mesmo tempo que demonstramos a relevância permanente do Antigo Testamento. Devemos resistir tanto ao dispensacionalismo patente quanto ao latente. Temos de identificar e evitar a prática ruim, embora ela pareça bastante convidativa. Devemos estar dispostos a gastar horas, suor, trabalho árduo e lágrimas, enquanto abrimos essa terra dura e não lavrada. Temos de procurar bons modelos de pregação, valorizá-los e aprender com eles. E, na ausência desses modelos, devemos buscar princípios bíblicos de interpretação que guiem nossa prática. Finalmente, devemos, com fé, manter-nos de pé diante do tanque de guerra da comunidade acadêmica e recusar-nos a deixá-los tirar Cristo do Antigo Testamento.

No entanto, o primeiro passo é estabelecer um alicerce forte de pressuposições bíblicas para apoiar todos os nossos sermões do Antigo Testamento. E devemos começar voltando-nos ao Novo Testamento. Ora, talvez pareça estranho começar um artigo sobre “Pregando a Cristo com base no Antigo Testamento” por voltar-nos ao Novo Testamento. Entretanto, começar com o Novo Testamento é o passo mais importante de todos, se queremos pregar corretamente a Cristo com base no Antigo Testamento. Deixar de fazer isso é uma das principais razões, ou talvez a principal razão, por que temos hoje tantos sermões sobre o Antigo Testamento nos quais Cristo não é mencionado.

Muitos vêem Cristo simplesmente como o “ponto final” do Antigo Testamento, o destino do Antigo Testamento. E, de fato, Ele é isso. Contudo, Ele também é o “ponto de partida” do Antigo Testamento, Aquele com quem devemos começar quando analisamos o Antigo Testamento. Com isso, estamos dizendo que devemos começar com o ponto de vista de Cristo sobre o Antigo Testamento. Neste artigo, seguiremos o seu exemplo por considerarmos as suas palavras na estrada de Emaús (Lc 24.25-32).


O ponto de vista de Cristo sobre o Antigo Testamento

Juntemo-nos aos dois discípulos na estrada de Emaús (Lc 24.25-32) e observemos três pontos:
  1. Tolice e Ignorância
  2. Interpretação Plena
  3. Discernimento da Fé
1. Tolice e Ignorância

Você já deve estar familiarizado com o contexto desse encontro na estrada de Emaús. Cristo foi crucificado numa sexta-feira. No domingo seguinte, dois homens do seu círculo de discípulos mais amplo decidiram deixar Jerusalém e viajar para Emaús, que ficava a cerca de onze quilômetros de Jerusalém. À media que conversavam “a respeito de todas as coisas sucedidas” (v. 14) e “discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles” (v. 15). Todavia, eles foram impedidos por Deus de reconhecê-lo naquele momento (v. 16). Jesus observou a postura deprimida e o rosto entristecido deles e perguntou-lhes qual era a causa de sua tristeza (v. 17). Eles prosseguiram fazendo um relato sobre a vida e o caráter de Cristo (v. 19), os seus sofrimentos e a sua morte (v. 20), o conseqüente desapontamento deles com Jesus (v. 21) e, devido à falta de evidências físicas, o ceticismo deles quanto aos rumores de uma ressurreição (v. 21).

Havendo escutado pacientemente a história deles até esse ponto, Cristo interveio com uma repreensão da ignorância e da descrença deles: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?” (Lc 24.25-26). Jesus lhes disse que o relato deles sobre a vida e a morte de Cristo igualava-se exatamente às predições dos profetas do Antigo Testamento. Eles acreditavam em alguns escritos dos profetas – as partes que falavam da glória do Messias. Entretanto, não acreditavam em tudo que os profetas haviam falado – especialmente, os trechos referentes aos sofrimentos e à morte do Messias. Portanto, Jesus os repreendeu por sua tolice e ignorância. A palavra grega traduzida por “néscio” é anoetos, denotando um indivíduo que vê coisas a partir de um ponto de vista distorcido. Em seguida, Jesus passou a expor o ponto de vista divino sobre a sua própria morte, ao mostrar, com base nas Escrituras do Antigo Testamento, que o Messias tinha de sofrer tais coisas e, somente depois disso, entrar em sua glória.

Quanta tolice – acreditar apenas numa parte do que Deus revelou pelos profetas! Quanta ignorância – desconhecer a necessidade dos sofrimentos do Messias, apesar de tudo que foi revelado no Antigo Testamento! Matthew Henry disse:

Jesus não os culpa tanto pela lentidão deles em acreditar no testemunho das mulheres e dos anjos, como os culpa por aquilo que causava isso: a lentidão deles em acreditar nos profetas; pois, se houvessem dado aos profetas do Antigo Testamento a devida importância e consideração, estariam tão certos da ressurreição de Cristo dentre os mortos naquela manhã (sendo o terceiro dia após sua morte) como estavam certos do nascer do sol.3
Eles esperavam outra redenção gloriosa semelhante à de Êxodo, mas ignoravam o sacrifício do Cordeiro Pascal que precedeu aquela redenção. Esperavam o glorioso e final reino davídico, mas ignoravam a perseguição homicida sofrida por Davi que precedeu o reino. Esperavam o rei profetizado em Isaías 53.12, que seria vitorioso e repartiria os despojos com os poderosos, mas haviam esquecido o Servo que sofreria e levaria o pecado, em precedência a essa vitória.
2. Interpretação Plena

Havendo repreendido a tolice e a ignorância dos dois discípulos, Cristo lhes deu uma interpretação completa do Antigo Testamento à luz dos acontecimentos recentes. Observe isso! É absolutamente decisivo. Cristo usou a luz do Novo Testamento para interpretar as Escrituras do Antigo Testamento. Em outras palavras, contrariando muitas das teorias humanistas da hermenêutica e da homilética moderna, Cristo viu a si mesmo no Antigo Testamento. Ele usou a luz dos acontecimentos do Novo Testamento para pregar sobre o Antigo Testamento. Veremos isso em detalhes.

O sermão que Cristo apresentou nessa ocasião, com base no Antigo Testamento, poderia ser intitulado Fatos Concernentes a Ele Mesmo. Tinha dois pontos principais: os sofrimentos de Cristo e a glória de Cristo. Nesses pontos, observe três estágios de desenvolvimento: “Começando por Moisés”, Ele discorreu por “todos os profetas” e expôs “todas as Escrituras” (v. 27). Um pouco depois (v. 44), Lucas mencionou um incidente semelhante em que Cristo interpretou o Antigo Testamento com o benefício da luz do Novo Testamento, usando mais uma vez esses três estágios.

Entretanto, retornemos aos dois pontos principais deste sermão em que Cristo prega Fatos Concernentes a Ele Mesmo com base no Antigo Testamento – seus sofrimentos e sua glória. Como amaríamos ter esse sermão preservado para nós nas Escrituras! Que textos específicos Ele aplicou a si mesmo? Que tipos Ele explicou? O texto bíblico não nos diz. Por que o Espírito Santo omitiu deliberadamente esses detalhes? Bem, alguns estudiosos nos dizem que só devemos pregar tipos do Antigo Testamento que são especificamente identificados como tais pelo Novo Testamento. Essa restrição severa e racionalista, criada por homens, teria sido aplicada também a esse incidente, se alguns dos detalhes do sermão de Cristo nos houvessem sido revelados. Seríamos proibidos de pregar com base em qualquer versículo do Antigo Testamento que não tivesse sido especificamente mencionado por Cristo nessa ocasião. Em vez disso, o silêncio permite que a fé medite sobre o possível conteúdo das três partes do Antigo Testamento: a Lei, os Profetas e os Escritos.

a. Os sofrimentos de Cristo

Se houve uma característica suprema do Antigo Testamento, essa foi o sangue – especificamente, o sangue de sacrifícios. As alianças com Adão, Noé, Abraão e Moisés foram todas inauguradas com sangue de sacrifícios. A aliança com Davi foi inaugurada com advertências de derramamento de sangue para os transgressores (2 Sm 7.14). Os ritos e as cerimônias religiosas do Antigo Testamento eram fartas de sangue sacrificial. O tabernáculo e o templo eram ensopados de sangue sacrificial. Se as Escrituras do Antigo Testamento eram proféticas, como realmente eram, quem poderia imaginar que o cumprimento encarnado desses tipos seria sem sangue?

Outro tema de grande importância no Antigo Testamento era o padrão de “sofrimento antes do triunfo” nos seus principais personagens: Noé, Abraão, Jacó, Moisés, Davi, Jonas. Quem vê esse padrão repetido na vida dos santos piedosos do Antigo Testamento, alguns dos quais existiram especificamente como tipos do Messias (por exemplo: Moisés, Davi), e não conclui que a vida do Messias seguiria um padrão semelhante?

Além disso, quantos salmos – o próprio enredo da vida espiritual de Israel – apresentam o ciclo de chorar durante a noite, antes de a alegria vir pela manhã (por exemplo: Salmos 22; 52-60; 69)?

Não admiramos que Cristo tenha perguntado: “Não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?” (Lc 24.26).

b. A glória de Cristo

Cristo não teve de convencer os discípulos de que o Messias seria glorificado. Contudo, eles diferiam de Jesus em seu ponto de vista sobre o que constituía a “glória”. Não há dúvida de que a glória do Messias foi apresentada no Antigo Testamento por meio de emblemas e símbolos de glória terrena: coroas, cetros, mantos, tronos, oficiais, servos, louvor, poder militar, etc. Não havia nenhuma dessas coisas quando Cristo caminhava na estrada para Emaús. No entanto, Ele sugeriu, conforme lemos no versículo 26, que já havia entrado em “sua glória”. Portanto, grande parte do sermão de Cristo, nessa ocasião, deve ter envolvido a explicação de realidades espirituais que estavam por trás do simbolismo terreno, a fim de mostrar que seu reino não era “deste mundo”, que sua glória era primariamente espiritual e celestial, que seu trono estava “dentro deles” e suas armas mais poderosas eram a Palavra e o Espírito Santo.

3. Discernimento da Fé

É provável que nenhuma outra viagem tenha se passado tão rápido! Quando parecia que o companheiro de viagem daqueles discípulos estava para separar-se deles, nos limites de Emaús, não nos surpreendemos ao ler que o constrangeram a ficar com eles e continuar o estudo bíblico. Obtendo sucesso em persuadi-lo, sentaram-se para comer. Em seguida, “tomando ele [Jesus] o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles” (vv. 30-31). Os discípulos olharam um para o outro, refletiram sobre sua viagem recente e disseram: “Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?” (v. 32). Consideremos os três estágios dessa “ardência espiritual no coração”.

a) Jesus abriu as Escrituras

O que Cristo encontra quando abre a porta de Gênesis; depois, de Êxodo, de Levítico...? Encontra a si mesmo! Matthew Henry disse: “O próprio Jesus Cristo é o melhor expositor das Escrituras, particularmente das Escrituras concernentes a Ele mesmo”.
4 Se Ele nos diz que pode ser encontrado desde o primeiro livro das Escrituras, “começando por Moisés”, então, que o encontremos ali. Negar a sua presença nesses livros é fingir ser um exegeta das Escrituras melhor do que Aquele que as inspirou!

Nesse encontro em Emaús, aprendemos os princípios mais fundamentais de interpretação do Antigo Testamento: os acontecimentos anteriores e posteriores a Cristo têm o seu significado nEle. J. C. Ryle salientou isso em seu comentário sobre esses versículos:

Ao ler a Bíblia, devemos ter em nossa mente o firme princípio de que Cristo é o assunto central de todas as Escrituras. Enquanto O mantemos diante de nossos olhos, jamais cometeremos grandes erros em nossa busca por conhecimento espiritual. Se O perdermos de vista, acharemos a Bíblia inteira um livro obscuro e cheio de dificuldades. Jesus Cristo é a chave do conhecimento bíblico.5
Graeme Goldsworthy foi ainda mais incisivo ao escrever:
Quando chegamos a compreender o Novo Testamento à luz do que vem antes, no Antigo Testamento, entendemos que é a revelação mais plena e a palavra final de Deus em Cristo que dão significado a todas as coisas. Cristo e, portanto, o Novo Testamento interpretam o Antigo Testamento.6
O Novo Testamento nos ensina a examinar o Antigo Testamento com olhos cristãos, nos ensina a estudá-lo à luz do evangelho. Goldsworthy prossegue explicando como navegar nessa exegese “para-trás-e-para-frente”:
Não começamos em Gênesis 1 e continuamos para frente até descobrirmos aonde estamos sendo levados. Em vez disso, primeiro vamos a Cristo, e Ele nos direciona a estudar o Antigo Testamento à luz do evangelho. O evangelho interpretará o Antigo Testamento por mostrar-nos seu objetivo e significado. O Antigo Testamento aumentará nossa compreensão do evangelho por mostrar-nos o que Cristo cumpre.7

Desde o nosso ponto de partida com Cristo, movemo-nos para trás e para frente entre os dois Testamentos. Nosso entendimento do evangelho é aprimorado pela nossa compreensão de suas raízes no Antigo Testamento, e, ao mesmo tempo, o evangelho nos mostra o verdadeiro significado do Antigo Testamento. Seria difícil delinear essa inter-relação entre os dois Testamentos em uma teologia bíblica escrita. Contudo, devemos tentar fazer isso por enfatizarmos a Cristo tanto como nosso ponto de partida como o alvo em direção ao qual nos movemos. Cristo é o lugar onde começamos porque nos mostra com o que realmente se preocupa a mensagem revelada do Antigo Testamento.8
Vern Poythress é, também, um forte defensor desse movimento “Novo e Antigo” na interpretação do Antigo Testamento. Ele escreveu:
Se estou certo em pensar que o Novo Testamento completa a história que Deus iniciou no Antigo Testamento, é bastante oportuno que agora eu olhe para trás, à luz da história completa, e veja o que mais posso aprender com sua primeira metade.9
b) Jesus abriu os olhos deles

Os dois discípulos não eram cegos. Eles viram Cristo com seus olhos físicos. Potanto, essa ação de abrir os olhos não significa conceder visão física, e sim visão espiritual. Além de abrir as Escrituras para eles, Cristo abriu-lhes os olhos da fé, que estavam temporariamente fechados.

Esse abrir os olhos parece estar associado com o partir o pão e o dar graças. Embora esses dois homens “do círculo de discípulos mais amplo” provavelmente não estivessem no cenáculo quando a ceia do Senhor foi instituída, talvez os outros discípulos “do círculo mais restrito” lhes falaram sobre a Ceia. De repente, eles perceberam que estavam sentados à Ceia do Senhor, quando Ele partiu o pão. É possível que tenham reconhecido a maneira como Ele se portava à mesa, maneira com a qual estavam familiarizados. Contudo, é mais provável que tenham visto as marcas dos cravos nas mãos do Senhor, quando ele partiu o pão. Não temos certeza. Tudo que sabemos é que agora viam seu companheiro de refeição sob uma luz completamente nova. E isso era obra do Senhor.

c) Jesus abriu o coração deles

Eles não o viram por muito tempo antes de desaparecer. Mas foi tempo suficiente para mudar toda a visão deles quanto ao mundo e ao seu passado recente. Enquanto refletiam sobre os privilégios espirituais desfrutados nas horas recentes, começaram a reconhecer que a fé tivera seu início na estrada e florescera à mesa. Esses sentimentos estranhos, aquele afeto incomum, a empolgação espiritual que sentiram, à medida que Jesus expunha as Escrituras, na estrada, era a fé sendo alimentada, nutrida e despertada de seu estupor. Michael Barrett resumiu isso assim:

O problema era dureza de coração. A necessidade era um estudo cristocêntrico das Escrituras do Antigo Testamento.10
Agora, eles não comparavam mais observações, e sim corações, enquanto reconsideravam o sermão de Cristo na estrada. Seu coração frio fora aquecido. Seu coração sombrio havia sido iluminado. Seu coração embaçado começara a brilhar mais uma vez. Seus planos de passar a noite naquele lugar foram desfeitos. Precisavam contar aos outros, não no dia seguinte, e sim naquela mesma noite. Eles não se preocuparam com a escuridão, com o perigo, com a distância. Retornaram imediatamente a Jerusalém, com o coração ardente, proclamando: “O Senhor ressuscitou!” (Lc 24.34).

Princípios de Interpretação

  • Cristo está presente, revelado e deve ser buscado em cada livro do Antigo Testamento, de Gênesis a Malaquias.
  • Textos do Antigo Testamento devem ser interpretados pelo acontecimento definitivo do evangelho.
  • Cristo é o ponto de partida para a interpretação do Antigo Testamento.


1 Duduit, M. The church’s need for Old Testament preaching. In: Klein, George L. (Ed.). Reclaiming the prophetic mantle. Nashville: Broadman, 1992. p. 10.
2 Archer, G. L. A new look at the Old Testament. Decision, Charlotte, p. 5, Aug. 1972.
3 Henry, M. Commentary on the whole Bible. Iowa: Word Bible Publisher, [19--]. p. 837.
4 Ibid. p. 838.
5 Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas. São José dos Campos, SP: Fiel, 2002. p. 388.
6 Goldsworthy, G. According to plan. Illinois: IVP, 1991. p. 52.
7 Ibid. p. 54-55.
8 Ibid. p. 76.
9 Poythress, V. The shadow of Christ in the law of Moses. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 1991. p. vii.
10 Barrett, M. Beginning at Moses. Greenville: Ambassador-Emerald, 2001. p. vii.

www.editorafiel.com.br
www.puritanseminary.org

Tradução: Ana Paula Eusébio Pereira
Revisão: Pr. Wellington Ferreira

Copyright ©2009 David Murray / PRTS
©Editora FIEL 2010.

Texto extraído do livro: Bright Shadows – Preaching Christ from the Old Testament no Puritan Reformed Journal. Com permissão de PRTS.

O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.
 
Em Cristo Jesus
kleber de sá

Salmos 1 – Uma Exegese

Introdução
Os hebreus conheciam bem os cânticos contidos no livro de Salmos, no hebraico é “Tehilim” (louvores). Na versão dos setenta passaram a ser chamados “Salmos”, por serem cantados ao som de um instrumento que os gregos chamavam de “saltério”.
Os salmos eram cânticos especiais para os dias ou ocasiões festivos, de vitórias, e muitos também deles tratam de situações adversas, como a “prosperidade dos ímpios”.
O salmo 1º enfoca uma benção que é dada a um servo por seu comportamento adequado e seu amor a “torá” [lei] do Senhor.

1. O Bem Aventurado
No hebraico temos אַשְֽׁרֵי= ‘Ashrey – que significa: Bem aventurado, feliz, ditoso. Aqui temos algo importante, este homem será bem aventurado, se cumprir as seguintes três coisas que o salmista enumera.

2. Os Três Não
2.1 – Não andar
O verbo usado aqui no hebraico é הָלַךְ = halakh – que significa – “ir, caminhar, andar/passar. Este verbo, bem como os outros dois que o seguem estão no passado, logo a tradução ficaria:
“Bem aventurado aquele que não andou….”
2.2 – Não deter-se
O verbo usado aqui é עָמָד= ‘amad = que signifca = “parar, estacionar-se/deter-se/
O tempo conforme mostramos acima está no pretérito, levando para uma ação já concluída.
2.3 – Não assentar-se
Temos o verbo hebraico יָשָֽׁב = Yashav = que significa ” sentar-se, permanecer, habitar”
O tempo do verbo é o mesmo mencionado acima [pretérito].
A tradução ficaria assim: ” Bem aventurado aquele homem que não assentou-se”

3. Os Três Perigos
3.1 – O conselho dos ímpios
Aqui temos o vocábulo hebraico עֲצַת = ats’at = que significa = “conselho, parecer”.
A palavra usada no hebraico para expressar ímpios é רְשָׁעִים = reshaym = que vem do radical “rashe’a” – que dá a idéia de “condenar-se, ser mal”. Portanto, podemos afirmar que o ímpio para o hebreu era aquele que se condenava em algo, mesmo sabendo que aquilo que ele fazia era errado.
O conselho dos ímpios fala da comunhão com o mundo, com as “trevas”, com aqueles que conscientemente caminham para a perdição.
3.2 – O caminho dos pecadores
No hebraico temos o vocábulo חַטָּאִ = hatâ = que vem do verbo da mesma grafia que significa “pecar, errar”.
Quando o salmista refere-se ao “caminho dos pecadores” cremos que ele tem em mente o caminho daqueles que estão em erro ou errados, ou seja, estão em pecado. Eles estão desviados do alvo, que é o termo teológico para a definição de pecado. Devemos tomar o cuidado para não parar ou estacionar neste caminho.
3.3 – A roda dos escarnecedores
No original temos os seguintes vocábulos :
a) מֹושַׁב = moshav = que significa “assento, vila”
b) לֵצִים = letsym = que significa “frívolos, “palhaços”, perversos.
No orginal dá a seguinte idéia: “estão escarnecendo, estão sendo frívolos”.
Frívolo quer dizer “sem importância, sem valor”. São estes que zombam do evangelho, da igreja, da Palavra de Deus.

4. Duas características do servo
4.1 – O seu prazer
A palavra hebraica usada aqui é חֶפְצֹ = heféts = que significa “desejo, anelo”.
O verso diz: “O seu desejo está na lei do Senhor”.
O maior prazer que o judeu fiel tinha era estar junto de sua “Toráh”. Uma das primeiras coisas que uma criança judia aprendia a falar era o “Shemá” : “Shemá Ysrael, Adonay Elocheinu, Adonay echad” (Dt 6.3). Os pais quando estavam ensinando a “torá” para seus filhos, e eles aprendiam, os pais davam mel para eles. Desse modo, eles associavam que a Palavra do Eterno era doce como o mel (Sl 119.103). Assim eles tinham prazer em aprenderem a lei do Senhor.
4.2 – O meditar
O verbo hebraico aqui é הְגֶּה = hagah = que significa “falar, expressar, pensar, meditar”
O texto diz: “… E na lei do Senhor medita dia e noite”. É notável percebermos o sentido amplo deste verbo que nos auxilia nesta exegese.
O salmista está afirmando que Deus prova e abençoa o servo que medita (exame interior), fala, pensa, estuda a sua Palavra de dia e noite. A expressão dia e noite além de especificar um tempo, pode também caracterizar tipologicamente, luta e vitória. Todavia, só será abençoado o servo que meditar nas lutas quanto na vitória, na Palavra do Senhor.

5. Os Dois Exemplos
5.1 O exemplo do servo justo
I) Uma árvore
a) plantada – O verbo no original está no particípio e entendemos que o Eterno é quem a plantou.
b) junto as correntes de água
A palavra hebraica para corrente é פַּלְגֵ = peleg = que também pode significar ” facção, parte”.
Caro leitor [a], você já parou para pensar o que significa esta expressão: “plantada junto a ribeiros de águas”? Muitos pensam que o termo “águas” é uma alusão as Escrituras. Mas não é! Aqui se refere ao mundo [ sistema], e esta árvore [homem, mulher] foi plantada numa facção [à parte, separada] das águas [alusão ao mundo], ou seja, a Obra do Senhor [igreja] constitui-se uma facção, uma parte de homens e mulheres que tomaram outro rumo – seguir a Cristo! Aleluia! Estamos no mundo, mas não pertencemos a ele. Somos cidadãos de outro país!
c) dá o seu fruto, na estação própria
O verbo hebraico é נָתָן = natân = que significa “dar colocar”
Aqui vemos um retrato “perfeito” do servo do Senhor. O homem dirigido pelo Espírito Santo não dá fruto fora de hora, mas no tempo determinado, na estação própria.
d) cuja folha não cai
O verbo usado aqui é “navel” = que significa “murchar, fenecer,secar”. Além de ser uma árvore que só dá fruto na ocasião própria, o servo é também tipo de uma árvore duja folha não murcha ou seca. Isto implica em dizer que esta árvore não sente a mudança de tempo,uma vez que nesta época as árvores perdem as folhas e na Palestina, isto ocorria no início do inverno, sendo que a figueira ficava totalmente “nua de folhas”.
5.2 – O exemplo dos ímpios
I) A moinha
Esta palavra no hebraico é מֹּץ = Mots = que significa “palha cortada em pedaços, escória de cereais, pragana”.
Se o ímpio é como a moinha, deduzimos que o ímpio é um ser leve, sem consciência espiritual, vazio, verdadeiro dejeto humano largado as suas próprias sortes.
A moinha segundo o dicionário é: Fragmentos miúdos de palha que ficam depois da debulha dos cereais.
b) o vento que espalha
O verbo hebraico aqui é “nadaf” = que significa “dispersar, espalhar”. O verbo está no futuro, indicando uma ação que ainda ocorrerá. A palavra vento no hebraico é a mesma usada para o Espírito = רֽוּחַ׃ = Ruach = vento, sopro, Espírito.

6. Os Três Futuros
6.1 – O futuro do justo – “E tudo quando fizer prosperará”
O verbo hebraico usado aqui é “Tsalakh” = que significa “prosperar, triunfar, atravessar”
6.2 – O futuro do ímpio – “Não subsistirão no juízo”
No original traz o verbo קֻמ = kum = que quer dizer: “levantar-se, rebelar-se, resistir”
O ímpio não poderá ao menos se levantar no dia do juízo.
6.3 – O futuro do pecador – “Não subsistirão na congregação dos justos”
A palavra para congregação no hebraico é עֲדַת = odat > e é oriunda do verbo que significa “adornar”.
O salmista está afirmando que os pecadores não comporão o adorno, jóia dos justos [ figura da salvação, promessas, dons etc]. Sendo assim, não serão reconhecidos pelo Senhor, e serão espalhados pelo horizonte afora.

7. Os Dois Caminhos
7.1 – O caminho do justo – “É conhecido pelo Senhor”
7.2 – O caminho do ímpio – “conduz à ruína”
O verbo usado no original é אבֵֽד = ‘avad = que equivale a “perder-se, errar, perecer, sumir”. Deste verbo deriva-se a palavra “Abadom” = destruição. Entendemos que o caminho do ímpio conduz a perdição e a destruição. Enquanto que o caminho dos justos é conhecido pelo Todo Poderoso.

Bibliografia : Calvino, João. Comentário de Salmos. Editora Fiel
Kidner, Derek. Comentário de Salmos. Edições Vida Nova
Centro de Cultura Bíblica Bereshit. Coleção: Salmos. Ano 2006. Prof. Pr. Hilmar S.E. Kaiser – Th.D, Ph.D

                                                                                                                                                                                        Blog/Supremacia das Escrituras  
Pastor :Marcelo Oliveira
Em Cristo Jesus
Kleber de Sá