quarta-feira, 27 de julho de 2011

MINHA IGREJA RACHOU E AGORA?


Processos de divisão em igrejas evangélicas deixam sequelas
No início, o Evangelho espalhou-se graças à presença do próprio Senhor Jesus. Mais tarde, após sua morte e ressurreição, coube aos novos convertidos ao recém-criado cristianismo romper com suas tradições religiosas e sair pregando as boas-novas do Reino. Em pouco tempo, a nova fé cresceu e, como não poderia deixar de ser, surgiram as primeiras divergências entre seus seguidores. A lei de Moisés perdera a validade ou não? Os mortos voltariam à vida antes ou depois do retorno do Senhor? A circuncisão continuava obrigatória? Depois, vieram as diferenças teológicas – e mesmo gigantes da fé, como os apóstolos Paulo e Pedro, tiveram lá suas diferenças por causa de interpretações conflitantes acerca do Evangelho. Quando a Igreja ganhou formas institucionais e o clero se fortaleceu, as divisões passaram a ocorrer, principalmente, por questões internas e administrativas. A falta de consenso, seja por motivos espirituais ou simples disputa de poder, levou a cristandade a grandes rachas, como o ocorrido em 1054, entre cristãos do Ocidente e do Oriente, ou a Reforma Protestante do século 16.
A verdade é que, ao longo destes dois mil anos e pelos mais diversos motivos – ou desculpas –, igrejas cristãs seguem tendo dificuldades em manter a sua unidade, gerando novas divisões e afetando a vida e o ministério de seus fiéis. Na história recente das igrejas evangélicas brasileiras, grandes separações aconteceram, tanto nos grupos históricos – como a Igreja Batista, que viu surgir em seu meio um segmento avivado nos anos 1960 –, como nas igrejas pentecostais e neopentecostais. E as separações acontecem tanto em nível denominacional como dentro das próprias comunidades locais, em geral por mero desentendimento entre seus líderes e, muitas vezes, gerando igrejas vizinhas – e até rivais – de mesma fé. “A divisão é intrínseca à experiência da Igreja cristã: simplesmente, nunca houve um cristianismo indiviso”, aponta o professor Joanildo Burity, coordenador do mestrado sobre fé e globalização do Departamento de Teologia e Religião da Universidade de Durham, na Inglaterra.
As razões que desencadeiam essas cizânias, na opinião dos especialistas, incluem desde a vaidade pessoal dos líderes até insubordinação, dificuldades de se trabalhar em equipe e interesses pessoais nocivos. Há também os motivos espirituais – caso das divergências teológicas ou de vocações ministeriais legítimas, que são sufocadas por lideranças centralizadoras. “Dificilmente, a divisão é provocada por uma ovelha, mas quase sempre por um pastor ou líder”, argumenta o pastor Osvaldo Lopes dos Santos, presidente da União das igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (UIECB). A denominação, introduzida no Brasil no século 19 pelo missionário e médico escocês Robert Kalley, enfrentou uma grande cisão em 1967, por causa da adesão de alguns pastores ao avivamento espiritual.
Se, por um lado, as separações em igrejas contribuíram para a acelerada disseminação do cristianismo no mundo, devido à multiplicação do número de congregações, por outro geram verdadeiros traumas emocionais e de fé nos membros, geralmente os que mais sofrem com as divisões. “Toda ruptura, quer seja pessoal ou institucional, sempre causa algum tipo de trauma emocional, psicológico, social, e, no caso da igreja, um espiritual”, continua Osvaldo. “Trata-se de um divórcio eclesiástico, que afeta profundamente a história e a identidade de um povo, removendo as suas bases e criando um grande vazio existencial por um longo tempo.”
Os cismas que acontecem no meio das igrejas evangélicas são uma das inúmeras causas das transferências de membros entre igrejas. A flutuação é grande – hoje em dia, é comum se encontrar crentes que já foram ligados a diversas congregações. Caso de R.M., carioca de 50 anos que, a fim de evitar constrangimentos, pediu à reportagem para não ser identificado. “Converti-me na Assembleia de Deus”, conta. “Mas, três anos depois, o pastor rompeu com o Conselho e abriu sua própria igreja. Fui com ele e mais uns trinta irmãos”. O novo trabalho prosperou, mas aí foi a vez de o pastor ser vítima da divisão – um missionário da igreja, insatisfeito com sua liderança, saiu e levou consigo boa parte dos membros. R., decepcionado, por pouco não caiu na fé. “Não fui atrás nem de um, nem de outro. Achei absurdo que homens que se diziam de Deus ficassem brigando entre si.”, reclama. Hoje, o funcionário público congrega na Igreja Cristã Maranata. “Há muito de vaidade e interesses pessoais nesses rachas, e pouco do Evangelho”, opina.
CREDIBILIDADE COMPROMETIDA
“Os crentes que mais sofrem com processos de divisão são justamente os neófitos na fé, que ainda possuem uma visão romantizada da igreja”, aponta o pastor Altair Germano, coordenador pedagógico Faculdade Teológica da Assembleia de Deus em Abreu e Lima (Fateadal), em Pernambuco. “As pessoas ficam marcadas por essas rupturas”. No entender do educador, atitudes de divisão podem criar grandes males espirituais para os membros de uma igreja que se fragmenta – “Embora, em alguns casos, a divisão seja até necessária”, ressalva. Mesmo assim, pondera, levantar as questões de maneira pública não é o melhor caminho. “As demandas e questões que suscitam divisões denominacionais precisam ser tratadas pelos líderes com sabedoria, temor, respeito e amor cristão.”
Até mesmo falar sobre as experiências de divisão é difícil tanto para os líderes, como para os membros das igrejas que sofreram esse tipo de situação. O pastor Josivaldo Carlos, 42, da Igreja Batista Missionária, já foi membro de uma igreja tradicional na periferia de Olinda (PE) antes de iniciar o próprio ministério. Há dez anos, um processo de mudança radical, implantada por um pastor que chegou à congregação, afastou rapidamente os membros mais antigos. “Eles se sentiram excluídos pela nova liderança. A maior parte se espalhou pelas igrejas vizinhas, mas uns até abandonaram o Evangelho.”
Josivaldo lamenta que os estragos da divisão vão além das paredes da igreja – trazem descrédito não apenas para as instituições que passam pelo problema, mas para o Evangelho, como um todo. “Existem consequências muito grandes nesses momentos. Uma delas é o prejuízo ao caráter evangelístico da igreja”, comenta. “Os novos convertidos sofrem um abalo na fé muito grande. Eles esperam da igreja algo novo, querem satisfazer um vazio da alma. Quando se deparam com uma separação que cria um ambiente muito hostil, a decepção é grande. Afinal, no lugar onde tinham a expectativa de encontrar soluções, acabam encontrando mais problemas”, declara Josivaldo.
Para Rinaldo Silva, de 24 anos, do Recife, o que o motivou a deixar a igreja onde congregava foi o que chama de uma crise interna. Envolvido em vários trabalhos na igreja, ele foi levado a deixar o ministério onde se batizara e foi para outra congregação, na mesma localidade, com uma série de irmãos, por conta das mudanças promovidas por um novo pastor, que eram contrárias aos princípios da igreja. “Esses momentos criam períodos de fraqueza espiritual muito grande. Leva os membros a se fecharem; muitos não querem mais saber de igreja nem de participar do Corpo de Cristo. Com o tempo, a pessoa nem quer mais buscar a Deus”. Anos após, com o fim da crise, Rinaldo retornou a igreja de origem, onde congrega até hoje. O aposentado João Neto, 54 anos, também passou por um processo de divisão na sua antiga igreja. Desvios doutrinários instabilidade na congregação, que culminou numa divisão, seis meses depois. “A igreja tinha um perfil e uma história que foram desrespeitados. A unidade da congregação foi enfraquecida. Entre os mais antigos, é uma tristeza ver uma trajetória ser interrompida.
Outro grupo de fiéis que demora a superar o embate das divisões são aqueles crentes que possuem longas trajetórias em uma mesma igreja. “Geralmente, aqueles que têm uma caminhada histórica em sua denominação é que apresentam dificuldades maiores numa situação como esta. Aos poucos, aquela sensação de vazio vai se dissolvendo e um novo tempo se estabelece em nossas vidas, porque, afinal, Deus nunca desiste de nós e ele é poderoso para guardar o nosso depósito até o dia final”, acrescenta o pastor Osvaldo Lopes dos Santos.
Fonte: Rafael Dantas, Cristianismo Hoje
Em cristo Jesus
Kleber santos

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A igreja como agente do reino de Deus


A igreja como agente do reino de Deus

Alderi Souza de Matos

Objetivos- Refletir biblicamente e contextualmente sobre o que é a igreja de Cristo e como ela deve ser agente do Reino de Deus no mundo.

- Analisar criticamente nossos modelos de eclesiologia sobre como o povo de Deus se relaciona com o Senhor, como se organiza organicamente e como se relaciona com o mundo em missão.

- Pensar sobre como a igreja e o Reino devem ser vividos neste dias entre a primeira e a segunda vinda de Jesus.

1. Aspectos bíblicos e históricos

1.1 Jesus e a mensagem do reino
Nos evangelhos sinóticos, a mensagem pregada por Jesus é identificada como “o evangelho [boas novas] do reino” (Mt 4.23; 9.35; 24.14; Mc 1.14-15; Lc 4.43; 8.1; 16.16). Esse reino é o “reino de Deus” ou sua expressão sinônima “reino dos céus”, que ocorre somente em Mateus (3.2; 4.17, etc.; ver, porém, 12.28; 19.24; 21.31,43). O Evangelho de João usa poucas vezes a expressão “reino de Deus” (só em 3.3,5), possivelmente substituindo-a por conceitos equivalentes, como “vida eterna”. Ao todo, a expressão ocorre mais de 80 vezes nos evangelhos.

1.2 O reino de Deus no Antigo Testamento
O conceito do reinado ou senhorio de Deus era familiar aos ouvintes de Jesus, estando presente no Antigo Testamento. Desde o início, Deus deixou claro que ele era o verdadeiro rei de Israel. Quando o povo pediu um rei humano, o Senhor manifestou o seu desagrado (1 Sm 8.5-7). A idéia de Deus como rei está presente em todas as Escrituras Hebraicas (Dt 33.5; Jz 8.23; Is 43.15; 52.7), em especial nos Salmos (10.16; 22.28; 24.7-10; 47.2,7-8; 93.1; 97.1; 99.1,4; 103.19; 145.11-13). Algumas passagens identificam o reino de Deus com o reino de Davi (1 Cr 17.14; 28.5; 29.11; Jr 23.5; 33.17). Esse reino será eterno e só alcançará a sua consumação em um tempo futuro, assumindo feições escatológicas (Dn 2.44).

1.3 Diferentes entendimentos
Nos dias de Jesus, os judeus piedosos esperam a vinda do reino (Mc 15.43; Lc 23.51). Após séculos de dominação estrangeira, havia a tendência de se entender o reino politicamente – a restauração do antigo reino de Israel. A vinda do reino seria a repentina intervenção de Deus na vida do seu povo, libertando-o de seus opressores e restaurando a sua liberdade, independência e prosperidade como nos dias de Davi. Até mesmo os discípulos de Jesus tinham essa expectativa (Mt 20.21; Mc 11.10; Lc 19.11; At 1.6).

1.4 O aspecto cronológico
Nos evangelhos, o reino num certo sentido já estava presente (Mt 12.28; Lc 17.21); todavia, a ênfase principal está na iminência da sua chegada (Mt 3.2; 4.17; 10.7; Mc 1.15; 9.1; Lc 9.27; 10.9,11; 19.11; 21.31). Muitas passagens falam do reino como uma realidade futura, escatológica (Mt 8.11s; 13.43; 26.29; Mc 14.25; Lc 13.28s; 14.15; 22.16,18; 23.42; 1 Co 15.50; 1 Ts 2.12; 2 Tm 4.1,18; Tg 2.5; 2 Pe 1.11; Ap 11.15; 12.10).

1.5 A proclamação do reino
Além de anunciar o reino (Lc 9.11; At 1.3) e revelar os seus mistérios (Mt 13.11; Mc 4.11), Jesus incumbiu os seus discípulos de fazerem o mesmo (Mt 10.7; 24.14; Lc 9.2,11,60); a igreja primitiva fez isso (At 8.12; 19.8; 20.25; 28.23,31; Cl 4.11).

1.6 As características do reino

1.7 Os sinais da presença do reino
Entre os sinais da presença do reino estão: humildade: Mt 5.3; justiça: Mt 5.10; 6.33; justiça, paz e alegria: Rm 14.17; amor a Deus e ao próximo: Mc 12.34; obediência: Mt 5.19s; fazer a vontade de Deus: Mt 6.10; 7.21; 21.31,43; dependência de Deus e confiança nele (ricos e pobres): Mt 19.23s; Mc 10.23-25; Lc 6.20; solidariedade com os sofredores: Mt 25.34; fidelidade: Lc 19.11ss; vigilância: Mt 25.1; requer novo nascimento: Jo 3.3,5.

1.8 Nossa atitude
Também é enfatizada a nossa atitude para com o reino: buscá-lo acima de tudo: Mt 6.33; recebê-lo como uma criança: Mt 18.1-4; 19.14; renunciar a outras coisas por ele: Mt 19.12,29; Mc 9.47; 10.29; Lc 18.29; sofrer por ele: At 14.22; 2 Ts 1.5; apossar-nos dele como de um tesouro: Mt 13.44-46; não olhar para trás: Lc 9.62.

2. Interpretações
O “reino de Deus” é um dos conceitos mais frutíferos e ao mesmo tempo controvertidos da teologia cristã. Nos dias de Jesus, entre os judeus, a expressão era usada em pelo menos três sentidos diferentes: (a) o reino eterno e invisível de Deus, que é independente da resposta ou do conhecimento humano (Sl 145.13); (b) a realização do reino de Deus em grupos ou indivíduos que aceitam a sua soberania (por exemplo, se diz que um prosélito “tomou sobre si o jugo do reino de Deus”); (c) o reino escatológico no fim da história, quando todos reconhecerão a soberania de Deus.

Os evangelhos deixam claro que há uma relação indissolúvel entre Jesus e o reino. Ele não somente anuncia o reino, mas a sua pessoa e obra são elementos essenciais do reino. Em Jesus, o reino de Deus se tornou uma realidade muito mais plena no mundo do que já havia sido até então. Jesus exemplificou de maneira suprema a submissão à vontade de Deus que é a característica mais importante do reino de Deus. Assim sendo, em sua pregação os apóstolos associavam o reino de Deus com a mensagem acerca de Jesus (At 8.12; 28.23,31; Cl 1.13).

3. O reino de Deus na história
Assim como nos dias de Jesus, ao longo da história da igreja o “reino de Deus” tem sido objeto de diferentes entendimentos. Orígenes afirmou que o próprio Jesus era o reino; alguns entendem que o reino se refere a um relacionamento apropriado com Deus; outros o têm identificado com a igreja visível ou com uma ordem social transformada; ainda outros têm insistido que Jesus se referia a uma intervenção apocalíptica da parte de Deus.

Esse conceito tem sido utilizado tanto para sustentar o status quo quanto para inspirar ideais revolucionários e contestadores. Desde a época de Agostinho tem havido a tendência de institucionalizar o conceito do reino identificando-o com a igreja. Embora o reino já esteja presente no mundo, ele ficaria circunscrito à igreja. Outra posição vê o reino como futuro, ainda que iminente. É o caso de movimentos apocalípticos como o montanismo do 2º século e muitos outros através dos séculos.

Nos Estados Unidos do final do século 19 e início do século 20 (1880-1930), o chamado “evangelho social” deu grande ênfase ao conceito do “reino de Deus”. Seu principal expoente foi Walter Rauschenbusch (1861-1918), um pastor batista de origem alemã. Procurando responder aos problemas sociais das grandes cidades norte-americanas num contexto de crescente industrialização, urbanização e imigração, o movimento apregoou a “implantação do reino de Deus na terra” e a necessidade de uma “sociedade redimida”. O reino de Deus passou a ser visto exclusivamente em termos de transformação da sociedade e justiça social. Um livro foi particularmente influente no sentido de popularizar as idéias do evangelho social: Em Seus Passos que Faria Jesus (1897), de Charles Sheldon.

Em seu livro O Reino de Deus na América (1937), H. Richard Niebuhr demonstrou que o tema do reino de Deus dominou o pensamento teológico americano desde o início. Esse conceito teve diferentes sentidos ao longo do tempo, desde a soberania de Deus na época dos puritanos e de Jonathan Edwards, passando pelo reino de Cristo na época dos avivamentos do século 19, até o reino terrenal de Deus no liberalismo do início do século 20. Para os liberais, o reino de Deus “não era um reino celestial de outra vida muito distante e futura, e sim o reino de amor e justiça nesta terra, tão completamente e tão rapidamente quanto possível”. A I Guerra Mundial (1914-1918), a quebra da bolsa de Nova York (1929) e outros eventos negativos destruíram as esperanças otimistas dos liberais.

4. Significado para hoje
No seu sentido amplo, o reino é um símbolo da vontade de Deus que pode ser realizada em situações particulares através da obediência humilde, mas que nunca é plenamente concretizada dentro das fronteiras da história por causa das limitações humanas. O reino fala de uma tensão: como Cristo já veio ao mundo, morreu e ressuscitou, há uma dimensão presente do reino. Como Cristo ainda não voltou para pôr fim à realidade presente e instaurar os novos céus e terra, o reino é também futuro.

Assim sendo, o reino está presente em parte, mas a sua manifestação final permanece uma esperança para o futuro. O cristão sabe que o reino veio num novo sentido em Cristo, que ele pode vir na sua própria vida, mas que ainda não veio plenamente. Desse modo, ele vive no mundo presente como um cidadão obediente desse reino, ao mesmo tempo em que ora com esperança confiante: “Venha o teu reino”.

Porque o reino é de Deus, ele não virá como resultado do esforço humano. Não é sustentável a visão otimista de que o desenrolar da história está trazendo os estágios finais do reino. Este não pode ser entendido como um conceito evolutivo ou primariamente como um conceito moral e ético. Por outro lado, os cristãos sabem que devem orar e trabalhar para que o reino se faça cada vez mais presente; eles sabem que, pelo menos em algumas áreas ou situações, a realidade do reino pode ser tornar mais palpável neste mundo caído.

5. O reino e a igreja

5.1 O que é a igreja

Os propósitos da igreja são basicamente cinco: adoração, comunhão (koinonía), edificação, proclamação (kégygma), serviço (diakonía). Esses propósitos apontam para três dimensões essenciais da vida da igreja: seu relacionamento com Deus, seus relacionamentos internos e seu relacionamento com o mundo. A missão da igreja se relaciona principalmente com os dois últimos aspectos: proclamação e serviço.

5.2 Igreja e reino
O Novo Testamento não identifica a igreja com o reino de Deus. Obviamente há uma relação entre ambos, mas não uma coincidência plena. A igreja tem limites claros, assume formas institucionais, tem líderes humanos. Nada disso se aplica ao reino de Deus, que é mais intangível, impalpável. Este é uma realidade que transcende os limites da igreja e que pode não estar presente em todos os aspectos da vida da igreja. É como dois círculos que se sobrepõem em parte e que se afastam em parte. Historicamente, a igreja por vezes tem se harmonizado com o reino, outras vezes tem estado em contradição com ele.

Todavia, dada a importância da igreja no propósito de Deus, ela é chamada para expressar a realidade do reino, para ser o principal agente do reino de Deus no mundo. Para que isso aconteça, a igreja e seus membros precisam manifestar os sinais do reino, ser instrumentos do reino na vida das pessoas, da sociedade, do mundo. Sempre que a igreja busca em primeiro lugar a glória de Deus, fazer a vontade de Deus, viver uma vida se humildade, amor, abnegação, altruísmo, solidariedade, etc., ela se torna agente e instrumento do reino.

O reino pode se manifestar, e com freqüência se manifesta, fora dos limites institucionais da igreja. Quando isso ocorre, a igreja deve se regozijar com essas manifestações, apoiá-las e incentivá-las. Todavia, existem aspectos do reino que só a igreja pode evidenciar, principalmente a proclamação do evangelho, das boas novas do amor de Deus revelado em Cristo.

5.3 A igreja sob o senhorio de Deus
A oração do Senhor é um bom ponto de partida para se refletir sobre o reino de Deus. Nessa oração, Jesus coloca Deus em primeiro lugar, como o centro dos nossos interesses e afeições, e relaciona isso com o reino. “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.9-10). O reino de Deus torna-se presente quando os crentes se unem para invocar a Deus como Pai, quando reconhecem a sua soberania sobre suas vidas, quando o reverenciam e se submetem a ele, quando procuram fazer a sua vontade na terra como ela é feita no céu.

Para que a igreja seja uma verdadeira agente do reino, primeiramente ela precisa refletir sobre a sua relação com Deus, fazer disso a sua prioridade máxima, identificar-se com os seus propósitos, associar-se a ele em sua obra de restauração da criação. A igreja precisa ser teocêntrica, a começar do seu culto. Quando o culto e a vida da igreja são voltados em primeiro lugar para a satisfação de necessidades humanas, e não para a glória e o louvor de Deus, a igreja deixa de ser teocêntrica, e em assim fazendo, não pode ser agente do reino de Deus no mundo.

5.4 A igreja – lugar de reconciliação
Ao mesmo tempo em que cultiva a sua vida com Deus, a igreja deve ser um lugar de relacionamentos interpessoais transformados. Uma igreja teocêntrica será também um lugar de companheirismo, solidariedade e edificação mútua. Essa é uma das grandes ênfases do Novo Testamento. Assim como Deus nos amou e nos perdoou em Cristo, também devemos amar, aceitar e ministrar uns aos outros. Daí o grande número de exortações em que aparecem as palavras “mutuamente” ou “uns aos outros”.

Como corpo de Cristo, a igreja deve reconhecer, respeitar e até celebrar certas diferenças; ao mesmo tempo, deve transcender essas diferenças, cultivando uma vida de união e fraternidade (Rm 10.12; 1 Co 12.12-27; Gl 3.28). Isso fica especialmente claro no que diz respeito aos dons (capacitações para testemunho e serviço), que são sempre discutidos em conexão com o corpo de Cristo (Rm 12.3-8; 1 Co 12.1-12; Ef 4.11-12). Os dons espirituais só têm razão de ser quando são exercidos, não para proveito e exaltação pessoal, mas para a edificação dos irmãos, para a realização do ministério da igreja. Um dos argumentos que Paulo usa em favor da tolerância na igreja é o fato de que não se deve fazer perecer “o irmão por quem Cristo morreu” (ver Rm 14.15; 1 Co 8.11).

5.5 Igreja, reino e sociedade
Em ordem de prioridade, a relação da igreja com o mundo está em terceiro lugar, o que não significa que seja algo opcional, secundário. Assim como aconteceu com Israel, a igreja foi formada para realizar uma missão. Se ela ignorar essa missão, nega a sua razão de ser e está sujeita ao juízo de Deus, como aconteceu com Israel.

A missão primordial da igreja no que diz respeito ao mundo é a proclamação do “evangelho do reino”, assim como fizeram Jesus e os seus discípulos. Corretamente entendido, esse evangelho inclui muitas coisas importantes. Em primeiro lugar, esse evangelho é um convite a indivíduos, famílias e comunidades para se reconciliarem com Deus mediante o arrependimento e a fé em Cristo. Todavia, o evangelho são as boas novas de Deus para todos os aspectos da vida, pessoal e coletiva. Assim sendo, a legítima proclamação do evangelho não vai se limitar ao aspecto religioso e à dimensão individual (experiência de conversão pessoal), mas vai mostrar o senhorio de Cristo sobre todos os aspectos da existência.

Além disso, essa proclamação não ficará restrita ao aspecto verbal, mas incluirá ações concretas que expressem a amor de Deus pelas pessoas (Tg 2.14-17; 1 Jo 3.16-18). Aí podem ser incluídas muitas iniciativas, que vão desde o socorro a necessidades imediatas até a luta por mudanças estruturais que irão produzir maior justiça na sociedade. Exemplos: auxílio financeiro a pessoas e instituições, trabalho voluntário, mobilização para a criação de leis justas, luta pela ética na vida pública, participação em projetos comuns com outras igrejas e instituições, etc.
5.6 Quando a igreja é um obstáculoA igreja se torna um entrave para os interesses do reino de Deus em várias situações: quando está mais preocupada com a sua própria sobrevivência, prestígio e poder; quando não consegue abrir mão de suas peculiaridades a fim de poder dialogar com outras igrejas e grupos; quando não procura “seguir a verdade em amor” (Ef 4.15); quando se retrai do mundo com medo de perder a sua identidade ou quando se identifica com o mundo com medo do escândalo da cruz.Conclusão – vivendo entre dois mundosO cristão experimenta uma série de paradoxos: o reino já veio, mas ainda não veio em sua plenitude; vivendo no mundo, ele experimenta as realidades do reino de Deus e do império das trevas; na própria igreja, existe trigo e joio, pecado e graça. Redimido por Cristo e conduzido pelo seu Espírito, ele ora: “Venha o teu reino”, e se dispõe: “Eis-me aqui, envia-me a mim”.


A igreja é o conjunto daqueles que crêem em Cristo e que se associam uns aos outros por causa da sua fé comum. À luz das Escrituras, a igreja é uma realidade essencialmente corporativa, comunitária. Ela é descrita como o corpo de Cristo, a família da fé, o povo de Deus, um rebanho, um edifício e outras figuras que acentuam o seu caráter de comunidade e solidariedade.

O Novo Testamento aponta as características do reino. É uma dádiva do Pai: Lc 12.32; equivale à vida eterna: Mc 9.47; é uma realidade interior: Lc 17.20s; é algo novo: Mt 11.11s; Lc 7.28; 16.16; agora inclui trigo e joio: Mt 13.24,47; cresce silenciosamente: Mt 13.31,33,38,41; Mc 4.26,30; representa graça e juízo: Mt 18.23; 20.1; os filhos do reino podem perdê-lo: Mt 21.31,43; 22.2; Lc 13.28s; alguns não o herdarão: 1 Co 6.9s; 15.50; Gl 5.21; Ef 5.5; não consiste em palavra, mas em poder: 1 Co 4.20. Cristo deu a Pedro e aos demais apóstolos as chaves do reino: Mt 16.19; 18.18. Há também o reino de Cristo: Mt 16.28; Lc 22.29s; Jo 18.36; 1 Co 15.24; Cl 1.13; 2 Tm 4.1.

O Reino de Deus através da Igreja

Aula 05 - O REINO DE DEUS ATRAVÉS DA IGREJA

Texto Básico:Lucas 17:20,21; Mateus 18:1-5; Marcos 10:42-45
"Os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho" (Mt 11.5).
INTRODUÇÃO
Depois da morte e ressurreição de Cristo, revela-se o mistério de Deus(Ef 3:1-6): a Igreja. Ao criar a Igreja, Jesus não pensou na formação de grupos sociais onde as pessoas apenas se confraternizassem e sentissem a presença de Deus em suas vidas, rotineira e habitualmente, algumas vezes por semana entre quatro paredes, mas, bem ao contrário, criou grupos de homens e mulheres que assumissem o compromisso de cumprirem deveres, obrigações, de executar ordens e tarefas deixadas pelo próprio Jesus para que as fizessem. Para tanto, o Senhor, inclusive, nos enviou como ovelhas ao meio de lobos (Mt 10:16).Nesta aula, estudaremos a respeito da relação entre a Igreja e o Reino de Deus. Como a igreja se relaciona com o propósito do Reino? Qual o seu papel, a sua missão? Não podemos entender a sua missão independentemente da missão de Jesus, a Cabeça da Igreja. Portanto, se Jesus veio inaugurar o Reino, a missão da igreja não pode ser outra senão a manifestação, ainda que não plena, do Reino de Deus, em palavras e obras, no poder do Espírito Santo.
I. O REINO DE DEUS E A IGREJA
1. Igreja, representante do Reino.Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”(1Pedro 2:9). No Antigo Testamento Deus constituiu o povo de Israel para representá-lo diante dos outros povos da Terra (Lv 26:12). Neste período da Graça de Deus, Ele comissionou a Igreja de Jesus Cristo para que o representasse neste mundo. Não nos referimos a uma congregação isoladamente, mas à Igreja universal, composta de todos aqueles que, em todas as épocas, nações, reinos e tribos, atenderam à mensagem do Evangelho e renderam-se à salvação ofertada por Deus em Jesus Cristo.A Grande Comissão não foi dada por Cristo para outra instituição que não à Igreja. E Ele espera que todos, como corpo, possamos dar continuidade aos desafios inerentes a nossa vocação: ir atrás dos perdidos (e não apenas esperar que eles adentrem na igreja para ouvir a pregação), ensinar (utilizando o ensino como ferramenta para formação e fortalecimento de igrejas e crentes) e batizar (a identificação com Cristo em sua morte).2. A Igreja é comissionada por Cristo. Depois de ter consumado a obra da redenção do homem no Calvário (João 19:30), sacrifício aceito pelo Pai como nos prova a ressurreição(At 3:25,26; 13:29,20), Jesus, após ter passado quarenta dias dando prova da sua ressurreição aos discípulos e falado a respeito do reino de Deus (At 1:3), explicitamente determinou qual seria a Comissão Principal da Igreja. Mandou que o evangelho fosse pregado por todo o mundo a toda a criatura (Mc 16:15), uma ordem que estabeleceu um verdadeiro dever a todo cristão, a ponto de o apóstolo Paulo ter exclamado: “Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o evangelho!”(2Co 9:16).
Portanto, uma vez comissionada por Cristo, a Igreja representa o Reino de Deus na sociedade. É o maior agente, transformador do caráter do ser humano, mediante a mensagem do Evangelho. Evangelizando, a igreja muda o cenário da sociedade, na qual acha-se estabelecida. Pessoas dantes viciadas em drogas, álcool, prostituição, etc., mediante a aceitação da mensagem do Evangelho tornam-se pessoas de caráter irrepreensível.
Quando os cristãos têm consciência que a tarefa primordial da Igreja é a evangelização, passam a entender que sua existência gira em torno dessa missão dada a cada crente, que é membro do corpo de Cristo em particular (1Co 12:27). Assim, tudo quanto fizermos nesta vida, em qualquer setor ou aspecto, deve levar em consideração, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça (Mt 6:33).
Todas as nossas ações, todo o nosso cotidiano deve ser criado e executado diante da perspectiva de que somos testemunhas de Cristo Jesus (At 1:8) e que devemos, portanto, testificar do Senhor, mostrar ao mundo, através de nossas boas obras, que Deus é nosso Pai, que somos filhos de Deus e, por meio deste comportamento, levar os homens a glorificar o nosso Pai que está nos céus (Mt 5:16).
3. A Igreja na sociedade. Também por estar no mundo e por se apresentar em grupos sociais, as chamadas “igrejas locais”, a Igreja acaba tendo de ter um papel importantíssimo perante a sociedade. Deus não nos tirou do mundo nem Jesus quis que isto se fizesse (João 17:15) e, diante desta realidade, assim como fez nosso Senhor, devemos, também, ter uma atuação social digna de nota, que sirva de testemunho de nossa comunhão com Deus.
Uma comunidade cristã que não interage com as pessoas à sua volta não completará a Grande Comissão, pois precisa justamente da interação para fazer Deus conhecido. Quando utilizamos essa expressão, não estamos dando a entender que a igreja precisa envolver-se com as práticas do mundo, ou associar-se a ele em seus pensamentos e ações. Não foi esse o projeto de Deus. Se uma igreja se associa com o mundo, acaba se parecendo com ele, perdendo sua característica de agente transformador comissionado pelo Senhor. Quando se fala em a Igreja interagir, isso implica viver e agir com o outro sem perder suas particularidades. Uma igreja pode envolver-se em ações sociais sem comprometer sua vocação e mensagem. Dependendo da sua estrutura, pode prestar assistência social - primeiramente aos domésticos da fé, como ordena a Palavra de Deus - a todos que precisarem, e oferecer-lhes o pão do céu, sempre mostrando que o alimento material é insuficiente sem o espiritual.
II. O REINO DE DEUS PRESENTE NA IGREJA
O Reino de Deus se faz presente na Igreja através da pregação cristocêntrica, da comunhão e do serviço.1. Na pregação cristocêntrica. A Igreja deve manifestar o Reino de Deus neste mundo mediante a pregação do Evangelho. Pregação essa que deve ser cristocêntrica, ou seja, a pregação que tem por centro, por fundamento a pessoa de Jesus. Infelizmente, muitas igrejas locais não proclamam mais o Cristo crucificado. Reduzem Jesus a um mero psicólogo, mestre, executivo, almoxarife, bancário, etc. Mas a Igreja que tem o compromisso com o Reino de Deus tem como principal característica a pregação cristocêntrica.A Igreja primitiva demonstrava com clarividência essa característica, que não deve ser alterada. No dia de Pentecostes, vemos Pedro, com ousadia, proclamando o Cristo crucificado e ressuscitado (At 2:31-36). Paulo foi o maior paradigma da Igreja com relação a esta característica. Ele mesmo diz: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado"(1Co 2:2).
Quando pregamos um evangelho voltado para o ser humano, para a satisfação das suas necessidades, para a vaidade e engrandecimento do homem, para glorificação de homens e de personalidades, estaremos a pregar um outro evangelho.
O Evangelho é o anúncio de Cristo, é a divulgação aos homens de que Cristo é o caminho, a verdade e a vida e que ninguém vai ao Pai a não ser por Jesus(João 14:6). Jamais Cristo deve ser substituído por nenhum outro assunto nos cultos e pregações.2. Na comunhão. "E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações" (At 2.42).A ”Comunhão” é a principal característica da Igreja. É a sua marca perante a humanidade, a característica indispensável para que o Senhor possa realizar a sua obra através do seu povo. Pela comunhão, a Igreja mostra-se como um povo perante os demais seres humanos e, graças a ela, pode cumprir todas as tarefas determinadas a ela. Tanto assim é que o relato de Lucas a respeito da igreja primitiva termina com o cumprimento da principal missão da Igreja: “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar”(At 2:47 ). O segredo para o rápido crescimento da Igreja Primitiva foi a comunhão entre os crentes. A Igreja somente progrediu mediante a comunhão e unidade de seus membros(At 2:47).A expressão “comunhão” é típica da Igreja, tanto que só é encontrada nas Escrituras Sagradas em o Novo Testamento. Seu primeiro aparecimento na Bíblia é em At 2:42, na primeira descrição deste novo povo de Deus, quando se diz que os crentes perseveravam na doutrina dos apóstolos e na “comunhão”.Várias metáforas são utilizadas para representar a Igreja quando se fala em comunhão. A igreja é comparada como uma “família”, um “exército”, um “templo’, uma ‘noiva”. Mas a figura predileta de Paulo para descrever a igreja é como um “corpo”. Um corpo tem interação, os órgãos se comunicam entre si. Cada parte é útil para o corpo como um todo e há interdependência delas (Ef 4:16; Cl 2:19). A Igreja é um corpo, cuja cabeça é Jesus Cristo. Ora, um corpo não pode subsistir sem que haja união entre seus membros, bem como entre os membros e a cabeça. Antes de existir comunhão precisa existir união. Uma é pré-requisito para a outra. Aceitar a Cristo é também aceitar fazer parte de seu corpo.A bênção do Senhor depende da existência de um ambiente de união entre os irmãos. O salmo 133 mostra com clareza esse fato: “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Arão, que desceu sobre a gola das suas vestes; como o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida para sempre”(Sl 133).Este salmo revela que, somente num ambiente de união, o Espírito Santo atua plenamente; somente num ambiente de união, cada membro em particular do corpo de Cristo (figurado por Arão, o escolhido para o sacerdócio) se deixa envolver plenamente pelo Espírito Santo (figurado pelo azeite); somente num ambiente de união, o refrigério do Espírito Santo pode nos consolar e nos permitir, mesmo neste mundo de sequidão e necessidade, termos a paz, a alegria e o amor divinos (figurados pelo orvalho de Hermom); somente num ambiente de união, a Igreja prossegue vitoriosa para se encontrar com o seu Senhor nos ares, cheia de vida espiritual e abençoada nos lugares celestiais em Cristo (João 15:5,6; Ef 1:3), porque é no ambiente de união que “…o Senhor ordena a vida e a bênção para sempre”.3. No serviço. “Bem-aventurado aquele servo que o Senhor, quando vier, achar servindo assim” (Mt 24:46). O serviço é uma parte indissociável da vida do salvo. Todo salvo tem de servir a Deus, tem de lhe prestar um serviço e, para que não houvesse qualquer dúvida a respeito, o próprio Jesus foi chamado de “o Servo do Senhor”, notadamente no livro do profeta Isaías, onde há “quatro cânticos do Servo”(Is 42:1-4; 49:1-6; 50:4-9 e 52:13-53:12) a fim de nos dar o exemplo de que como deveríamos nos comportar enquanto Igreja, enquanto corpo de Cristo(1Co 12:27).
O Senhor concedeu a todos os que creem pelo menos o dom da salvação e da fala, e é com este talento que devemos negociar até que Ele volte. Paulo revela-nos que “todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal” (2Co 5:10).
Portanto, cada um na função que foi estabelecida pelo Senhor, temos de servi-lo: pregando o Evangelho; integrando os salvos na igreja local; aperfeiçoando os santos mediante o estudo da Palavra de Deus; adorando a Deus; buscando influenciar o mundo para que ele viva de acordo com a vontade de Deus; dando um bom testemunho para que os homens glorifiquem ao Senhor; ajudando o próximo, tanto material quanto espiritualmente; lutando pela preservação da sã doutrina e pela manutenção de uma vida avivada na igreja local a que pertencemos. Temos feito isto que o Senhor nos determina? Temos cumprido as tarefas cometidas pelo Senhor?
Outrossim, a Igreja de Cristo é um organismo vivo e sua função não se limita à proclamação do Evangelho. Ela serve a Deus, mas também ao próximo (Mc 12:29-31). Aliviar os sofrimentos e as angústias de outras pessoas, principalmente dos necessitados, é serviço Cristão. Recomenda-nos o apóstolo Paulo: “Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo(Gl 6:2). Esse tipo de serviço é também um testemunho de amor cristão. Provavelmente Tiago tenha falado que a fé sem as obras seja morta, nos exortando ao serviço para o bem comum. Está escrito: “Aquele que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado”(Tg 4:17). Jesus declarou o seguinte: “E aquele que der até mesmo um copo de água fresca a um destes pequeninos, na qualidade de discípulos, em verdade vos digo, que de modo algum perderá sua recompensa”(Mt 10:42 ).
Portanto, a proclamação do Evangelho, a comunhão e o serviço farão da Igreja uma autêntica expressão do Reino de Deus (Tg 2:14-26). Pense nisso!
III. QUEM É O MAIOR NO REINO DE DEUS.
Em meio à Páscoa e à instituição da Ceia, surgiu uma questão entre os discípulos. Quem era o maior? Certamente eles não entenderam as palavras de Jesus a respeito da morte dEle. Ainda pensavam no Mestre apenas como um rei secular; estavam preocupados com as posições que ocupariam no reino que Ele ia instalar, por essa razão ignoraram as palavras de Jesus a respeito de sua morte e começaram a discutir sobre quem ocuparia o maior cargo. É triste que, estando Jesus tão perto da cruz, seus discípulos mais íntimos estavam tão longe do espírito dEle.
Essa discussão era um sinal de que os apóstolos ainda não entendiam nada do que estava acontecendo. Talvez motivados pelo anúncio da traição de um deles, ficaram discutindo sobre quem tinha traído e, consequentemente, sobre quem era o mais fiel, e essa discussão derivou para o grande tema da noite:
Quem era o maior. Em vez de se humilharem, reconhecendo a fragilidade do momento, pelo contrário, desejaram o poder.Mas os discípulos não se parecem conosco? Ah! Certamente! Dentro de nossas igrejas existem muitos que lutam pelas posições de poder, esquecendo-se do serviço, esquecendo-se de que o parâmetro estabelecido por Jesus é totalmente diferente.
Em resposta a essa cegueira espiritual, Jesus contrapôs o costume das nações, dos reis e governantes que dominam sobre as pessoas, e como devia ser o ambiente da comunidade dos discípulos: “
O maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve”(Lucas 22:26). Portanto, quem é o maior no Reino de Deus? É aquele que é humilde, possui a sinceridade de uma criança e se faz servo de todos.1. O “maior” em humildade. A verdadeira grandeza é vista no cristão que expressa sua fé e seu amor a Cristo, em sincera humildade, no desejo de servir tanto a Deus, quanto aos homens, e na disposição de ser considerado o menos importante no reino de Deus(Fp 2:3).
A verdadeira grandeza não está na posição, no cargo, na liderança, no poder, na influencia, nos diplomas de nível superior, na fama, na capacidade, nas grandes realizações, nem no sucesso. O que importa não é tanto o que fazemos para Deus, mas o que somos em espírito interiormente diante de Deus.
A cerca da humildade falou Salomão:O temor do Senhor é a instrução da sabedoria; e adiante da honra vai à humildade”(Pv 15:33); “Antes da ruína eleva-se o coração do homem; e adiante da honra vai à humildade”(Pv 18:12).Davi falou:Ainda que o Senhor é excelso, contudo atenta para o humilde; mas ao soberbo, conhece-o de longe”(Sl 138: 6).Dela também fala Paulo:Revestí-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de coração compassivo, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade”(Cl 3:12).
Jesus ensinou a humildade: “Portanto, quem se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos céus”(Mt 18:4).
Dentre tantas outras referencias bíblicas, citamos aqui algumas, para lembrarmos da importância da humildade na vida do Servo de Deus. Portanto, para ser grande no Reino de Deus precisa antes ser humilde: “
O Senhor eleva os humildes, e humilha os perversos até a terra”(Sl 147:6).2. O “maior” deve ser como uma criança. Pa mostrar aos discípulos quem eram o maior no reino de Deus, Jesus lhes apresentou uma parábola viva. Ele usou para essa lição um elemento totalmente inesperado para eles. Jesus tomou uma criança e, certamente, a colocou no colo e lhes ensinou: “Portanto, aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus”(Mt 18:4).A criança, além de ser o símbolo da despretensão, da fraqueza e da dependência, era o símbolo da pureza de fé, da humildade e principalmente da falta de hipocrisia, isto é, da sinceridade e da transparência. Naqueles dias, a criança não tinha qualquer valor na sociedade, assim como os escravos. E a lição ensinada acabava com qualquer pretensão: O menor é o maior, e quem recebe o menor recebe a Jesus e ao Pai que o enviou. Quem acolhe os pequenos, humildes e sinceros acolhe Jesus e a Deus que o enviou “(ler Lucas 18:46-48). Portanto, a pessoa maior no Reino de Deus é aquela que se humilha como uma criança.3. O “maior” deve ser servo de todos. Jesus mudou completamente a maneira de nos relacionarmos. Ele inverteu o esquema do poder estabelecendo novas regras, regras que deviam ser respeitadas em sua nova comunidade. Nada de um dominando sobre o outro, mas um colaborando com o outro; um abençoando o outro. Tendo em vista a comunhão, o poder de dominação cedeu lugar ao poder do serviço e do amor. E, conforme atestou posteriormente o apóstolo Paulo, em Filipenses 2:7, o próprio Jesus é o nosso modelo.
As palavras de Jesus em Lucas 22:27 são contundentes: “
Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve”. Jesus é o maior, mas está entre todos como aquele que serve. Ah! Quando soubermos respeitar e amar aquele que serve, certamente saberemos respeitar a todos.Temos desejado o primeiro lugar? Ou estamos dispostos a servir até aquele que acha que devia servir-nos? Esse é o desafio do evangelho! Se Jesus se entregou por nós, por que não podemos nos entregar aos irmãos? Um dia, estaremos para sempre como o Senhor, mas enquanto esse dia não chega, sigamos o exemplo de Cristo, que sendo Deus, tomou a forma de servo (Fp 2:5-11).
CONCLUSÃO
Dada a importância da igreja no propósito de Deus, ela é chamada para expressar a realidade do reino, para ser o principal agente do reino de Deus no mundo. Para que isso aconteça, a igreja precisa manifestar os sinais do reino, ser instrumento do reino na vida das pessoas, da sociedade, do mundo. Sempre que a igreja buscar em primeiro lugar a glória de Deus, fazer a vontade de Deus, viver uma vida de humildade, amor, abnegação, altruísmo, solidariedade, etc., ela se torna agente transformador e instrumento do reino de Deus.
Aspectos do reino podem se manifestar, e com freqUência se manifestam, fora dos limites institucionais da igreja. Quando isso ocorre, a igreja deve se regozijar com essas manifestações, apoiá-las e incentivá-las. Todavia, existem aspectos do reino que só a igreja pode evidenciar, principalmente a proclamação do evangelho, das boas novas do amor de Deus revelado em Cristo. Que venhamos, como Igreja do Senhor Jesus Cristo, evidenciar o Reino de Deus neste mundo através de nossa vida, testemunho e proclamação do Evangelho.
------
Elaboração
: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
William Macdonald – Comentário Bíblico popular(Novo Testamento).
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Revista Ensinador Cristão – nº 47.
O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.
Caramuru Afonso Francisco - Comunhão dos santos - a missão conciliadora da igreja.
Claudionor de Andrade – União Cristã, o vínculo da perfeição

terça-feira, 19 de julho de 2011

Quatro Ondas de Mudança em Missões

Se Deus se agradar em responder nossas orações em favor de missões, elas podem se tornar quatro ondas que vêm sobre milhares de pessoas e igrejas. Estas são as ondas pelas quais estou orando:
Onda 1: colocar a evangelização mundial nas paixões de uma nova geração.
"Missional" é a palavra de nossos dias. Contudo, a obra de missões não é realizada sempre no mundo. Fazer missões significa transpor uma barreira étnica e lingüística (que pode exigir 20 anos), a fim de implantar o evangelho em um povo que não tem acesso ao evangelho. O obra de missões elabora estratégias para alcançar não somente pessoas não-alcançadas, mas também povos não-alcançados. "Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos" (Sl 67.3). A Onda 1 se tornaria o DNA de "missional".
Onda 2: entretecer de novo o horror do inferno em nossa compaixão.
Eu oro para que o slogan de missões mundiais seja: nós nos preocupamos com todo sofrimento, especialmente o sofrimento eterno. Todas estas palavras são importantes: sofrimento, eterno, especialmente, todo, preocupamos, nós. Cada uma delas denota carga. A Onda 2 resultaria em que essa carga seria carregada em milhares de trens evangélicos direcionados à vizinhança e às nações.
Onda 3: destruir percepções erradas sobre o que é necessário em missões.
Espero que nosso pensamento sobre a evangelização dos povos destrua a noção de que missões podem ficar em nossa pátria agora, porque todas as nações têm vindo até nós. A região em que eu moro está sendo atualmente referida pela City Vision como "a mais etnicamente diversa e única da América, onde se fala mais de 100 línguas". Isso muda bastante a maneira como fazemos missões. Mas uma coisa que isso não muda é o fato de que o Joshua Project cataloga não algumas centenas, e sim 6.933 povos que, globalmente, não têm uma presença auto-sustentável do evangelho. Outro conceito errado que eu gostaria de ver destruído é o de que os ocidentais devem apenas mandar dinheiro, em vez de irem como missionários. Minha paráfrase: que outros dêem o seu sangue. Nós damos o nosso dinheiro. Falando de maneira realista, a maioria dos povos não-alcançados não tem melhor acesso ao nosso dinheiro do que nós o temos. "Não-alcançado", em seu sentido pleno, significa: não há nenhum missionário no povo para o qual você poderia enviar dinheiro, se quisesse fazer isso. Portanto, a Onda 3 resultaria em fazer tudo: missões aos povos não-alcançados que vivem entre nós, apoiar missões de outras igrejas que enviam e, em especial, mobilizar sua própria igreja para alcançar os milhares de povos que não têm acesso ao evangelho.
Onda 4: convencer os pastores de que uma paixão pela glória mundial de Deus é boa para os crentes de nosso país.
Se a luz de sua vela pode brilhar até milhares de quilômetros, ela está queimando com bastante intensidade no seu próprio lar. Que tipo de cristãos queremos que nossas igrejas produzam? Considere: cristãos indiferentes, que gastam maior parte de seu tempo livre em entretenimento mundano, raramente oram, choram ou trabalham para alcançar os povos que perecem. Não os afague. Confronte-os. Exorte-os a ter uma vida. Assistir a filmes todas as noites os deixa espiritualmente sem poder e vazios. Eles precisam de uma causa muito nobre pela qual podem viver. E pela qual podem morrer. A Onda 4 faria de missões mundiais o ponto de ebulição para muitos crentes despertados.
Por:John piper

domingo, 10 de julho de 2011

As Divisões da Igreja de Corinto - Retrato de Hoje

por: Augustus Nicodemus
Apesar de ser uma igreja que se via como espiritual (1 Coríntios 3.1) e de ser voltada para a busca de dons carismáticos (1 Coríntios 12.31; 14.1; 14.12), a igreja de Corinto estava na iminência de dividir-se em pelo menos quatro pedaços. Paulo, ao escrever-lhes, menciona que tem conhecimento de quatro grupos dentro da comunidade que ameaçavam a sua unidade: os de Paulo, os de Pedro, os de Apolo e os de Cristo (1 Coríntios 1.11-12). A igreja de Corinto, com seu espírito faccioso e divisionista, a despeito de sua pretensa espiritualidade, ficou na história como um alerta às igrejas cristãs de todo o mundo, registrado na carta que Paulo lhes escreveu.
Para aprendermos a lição, devemos primeiramente entender o racha que estava por acontecer naquela igreja. E não é um desafio fácil determinar com relativa certeza a natureza e identificação de cada um dos grupos mencionados por Paulo em 1 Coríntios 1.12.
Uma explicação popular é a dos partidos teológicos. Para alguns estudiosos, os aderentes de Pedro, Paulo e Apolo haviam-se agrupado em torno das suas doutrinas distintas, formando uma divisão rígida dentro da igreja. Estes grupos se caracterizavam por manter as ênfases doutrinárias características daqueles líderes. Geralmente se ouve falar que os de Pedro mantinham um Cristianismo judaico rígido e intolerante, até meio legalista; que os de Paulo eram mais abertos, enfatizando a salvação pela fé sem as obras da lei, e que os de Apolo seguiam a hermenêutica alegórica do eloqüente alexandrino. A realidade é que não há qualquer indício em 1 Coríntios 1-4 da existência de partidos teológicos. A relação entre a teologia dos líderes favoritos e a formação destes partidos em torno de seus nomes é altamente especulativa.
O que se percebe é que havia a escolha pessoal de cada coríntio de um líder favorito, de quem ele se vangloriava de ser discípulo (1 Coríntios 1.12; 3.21). As contendas se davam porque cada um deles afirmava que seu eleito era o melhor (3.21, 4.6). Percebemos ainda que existe uma relação estreita entre o apego à filosofia grega e a formação dos partidos em 1 Coríntios 1-4. Os slogans “eu sou de...” soam como culto à personalidade, um erro no qual crentes neófitos e imaturos caem com freqüência. No caso dos coríntios em particular, esse culto à personalidade tinha recebido um impulso adicional da sua tendência, como gregos, de exaltar os mestres religiosos ao status de theioi anthropoi , homens possuindo qualidades divinas. As principais escolas filosóficas da Grécia costumavam invocar o nome de seus fundadores e principais mestres. Esse costume poderia explicar a vanglória dos coríntios em seguir Paulo, Pedro, Apolo e mesmo o Mestre de todos, Cristo.
Os slogans usados pelos coríntios (“eu sou de...”) ratificam esse ponto. O problema tinha a ver com a tendência comum de alguns crentes de venerar líderes cristãos reconhecidos . Com exceção de Cristo, os nomes escolhidos pelos coríntios são de um apóstolo (Pedro e Paulo) ou de alguém associado com eles (Apolo): Paulo era o fundador apostólico da igreja (4.15); Apolo, por sua vez, embora não considerado no Novo Testamento como um apóstolo, era um pregador eloqüente e tinha desenvolvido um ministério frutífero entre os coríntios, depois da partida de Paulo (3.6, cf. At 18.24-28, 19.1); E Pedro era o conhecido líder dos apóstolos, e muitos possivelmente teriam sido atraídos a ele, embora não seja certo que alguma vez ele haja visitado a igreja de Corinto.
Os “de Cristo” são notoriamente difíceis de se identificar. Embora a escolha do nome de Cristo tenha sido possivelmente uma reação ao partidarismo em torno de nomes de homens, os seus aderentes nada mais são que outro partido. Eles se vangloriavam de que seguiam a Cristo somente, e não a homens, mesmo que estes fossem apóstolos. Paulo os teria criticado pela forma facciosa com a qual afirmavam esta posição aparentemente correta. É provável que os membros do partido “de Cristo” eram os mesmos “espirituais”, um grupo na igreja que se considerava “espiritual” (cf. 3.1; 12.1; 14.37). Para eles, o conceito de ser “espiritual” estava relacionado com o uso dos dons espirituais, principalmente de línguas e de profecia. Este grupo, por causa do acesso direto que julgava ter a Deus, através dos dons, teria considerado desnecessário o ministério de Paulo, tinham-no em pouca conta, e mesmo queriam julgar a sua mensagem (1 Coríntios 4.3; 4.18-21; 8.1-2; 9.3). Esse seria o grupo “de Cristo,” cujos membros (em sua própria avaliação) não dependiam de homem algum, mas somente e diretamente do Senhor, através dos dons. Paulo faz pouco caso das suas reivindicações, e considera a igreja toda como sendo “de Cristo” (cf. 3.23; 2 Coríntios 10.7).
É o próprio Paulo, entretanto, quem nos revela a causa interna principal para as divisões entre os coríntios: eles ainda eram carnais (1 Coríntios 3.1-4; cf. Gálatas 5.20). Esta carnalidade, embora deva ser interpretada primariamente como imaturidade, em contraste aos “maduros” ou “perfeitos” (1 Coríntios 2.6), carrega uma conotação ética, como a expressão “andar segundo os homens” (1 Coríntios 3.3) indica.
Podemos concluir que os partidos de Paulo, Apolo, Cefas e Cristo, que estavam rachando a igreja de Corinto, não eram partidos teológicos, isto é, aglutinados em torno da suposta teologia de cada um destes nomes. Mais provavelmente, os partidos se formaram a partir das preferências pessoais dos coríntios individualmente, tendo como impulso a sua imaturidade, sua carnalidade, e sua tendência, como gregos, de exaltar mestres religiosos. O partido de Cristo, por sua vez, havia se formado por outro motivo, a enfatuação religiosa produzida pelos dons carismáticos.
A situação triste da igreja de Corinto nos fornece um retrato do espírito divisivo que ainda hoje permeia as igrejas evangélicas. É um texto básico para ser pregado e ensinado nas igrejas e seminários. Embora haja momentos em que uma divisão seja necessária (quando, por exemplo, uma denominação abandona as Escrituras como regra de fé e prática), percebemos que as causas do intenso divisionismo evangélico no Brasil são intrinsecamente corintianas: imaturidade, carnalidade, culto à personalidade, orgulho espiritual, mundanismo. Nem sempre os líderes são culpados do culto à personalidade que crentes imaturos lhes prestam. Paulo, Apolo e Pedro certamente teriam rejeitado a formação de fã-clubes em torno de seus nomes. De qualquer forma, os líderes evangélicos sempre deveriam procurar evitar dar qualquer ocasião para que isto ocorra, como o próprio Paulo havia feito (1 Coríntios 1.13-17). Infelizmente, o conceito de ministério que prevalece em muitos quartéis evangélicos de hoje é exatamente aquele que Paulo combate em 1 Coríntios.
em cristo jesus
kleber santos