Selecionei algumas questões, que entendo ser interessantes para uma análise e discussão na sala de aula:
CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS CHAMADOS DONS MINISTERIAIS
Apóstolos
"É importante que façamos uma distinção entre o apóstolo, como dom ministerial, e os doze apóstolos de Cristo - os apóstolos do Cordeiro (Ap 21.14). Estes formavam um grupo distinto na Igreja Primitiva (Lc 6.12-16) [...]. Quanto aos apóstolos dados à igreja, por intermédio do dom ministerial e cuja função é de "embaixador" (cf. 2 Co 8.23) e "enviados" (cf. Fp 2.25), são estes igualmente imprescindíveis à obra de Deus." (Comentário da Lição Bíblica)
A afirmativa acima se enquadra na discussão contemporânea sobre a atualidade do ministério de apóstolo. Fica evidenciado no texto que o comentarista da lição faz uma distinção entre os doze apóstolos de Cristo, como um grupo específico, dos demais apóstolos investidos do dom ministerial. Concordo com a distinção proposta, e sobre isto, faço a seguir algumas considerações.
Sobre esta questão, a Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD) diz:
"O título "apóstolos" se aplica a certo líderes cristãos no NT. O verbo apostello significa enviar alguém em missão especial como mensageiro e representante pessoal de quem o envia. O título é usado para Cristo (Hb 3.1), os doze discípulos escolhidos por Jesus (Mt 10.2), o apóstolo Paulo (Rm 1.1; 2 Co 1.1; Gl 1.1) e outros (At 14.4, 14; Rm 16.7; Gl 1.19; 2. 8,9; 1 Ts 2.6,7). [...] Apóstolos, no sentido geral, continuam sendo essenciais para o propósito de Deus na igreja. [...] O termo "apóstolo" também é usado no NT em sentido especial, em referência àqueles que viram Jesus após a sua ressurreição e que foram pessoalmente comissionados por Ele a pregar o evangelho e estabelecer a igreja (e.g., os doze discípulos e Paulo)."
Em termos gerais, o ministério apostólico se manifesta na atualidade através da atividade missionária.
Profetas
Sobre este ministério, já escrevemos na lição anterior (10) o artigo intitulado "O ministério profético no Novo Testamento".
Evangelistas
Sobre o ministério de evangelista, recomendo a leitura do artigo que escrevi sobre o assunto, intitulado "O Ministério de Evangelista numa Perspectiva Bíblica, Exegética e Teológica"
Pastores
Dentre as atividades pastorais estão o cuidado com a sã doutrina (Tt 1.9-11), o ensino e a direção da igreja local (1 Ts 5.12; 1 Tm 3.1-5), a postura exemplar (Tt 2.7-8).
Indico também a leitura do meu artigo "Presbíteros são Ministros da Palavra?"
Doutores ou Mestres
A definição da BEP resume bem este importante ministério: "Os mestres são aqueles que têm de Deus um dom especial para esclarecer, expor e proclamar a Palavra de Deus, a fim de edificar o corpo de Cristo (Ef 4.12)."
O MINISTÉRIO DE PROFETA E O DOM DE PROFECIA
Para distinguir o ministério de profeta no NT (Ef 4.11) do dom de profecia (1 Co 12.10), a Bíblia de Estudo Pentecostal faz a descrição abaixo, que resume o pensamente assembleiano sobre o tema:
"É preciso distinguir a profecia aqui mencionada, como manifestação momentânea do Espírito da profecia como dom ministerial na igreja, mencionado em Ef 4.11. Como dom de ministério, a profecia é concedida a apenas alguns crentes, os quais servem na igreja como ministros profetas [...]. Como manifestação do Espírito, a profecia a profecia está potencialmente disponível a todo cristão cheio dEle (At 2.16-18)".
É interessante colocar, que no mesmo contexto de 1 Co 12, o apóstolo Paulo escreve:
27 Ora, vós sois o corpo de Cristo e seus membros em particular. 28 E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores, depois, milagres, depois, dons de curar, socorro, governos, variedades de línguas. 29 Porventura, são todos apóstolos? São todos profetas? São todos doutores? São todos operadores de milagres? 30 Têm todos o dom de curar? Falam todos diversas línguas? Interpretam todos? 31 Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente.
Aqui, temos os dons chamados de "ministeriais" e os dons espirituais juntos, sem distinção em termos da classificação tradicionalmente pentecostal.
A bíblia usa o termo "dons espirituais" em 1 Co 12.1 (gr. pneumatikom), mas, em nenhum lugar, usa o termo "dons ministeriais", termo este que foi criado pelos estudiosos das sagradas escrituras para fins didáticos, e para sustentação da distinção sugerida.
Na obra Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, publicado também pela CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus), na pág. 1238 e 1239 temos um quadro que nos apresenta os "dons ministeriais", onde entre estes dons, além dos já tradicionalmente conhecidos (Ef 4.11), foram incluídos:
- Ajudantes (At 13.1-3; 1 Co 12.28, 29; Ef 4.11; At 20.35; At 16.14, 15, 3 Jo 5-8);
- Administradores (Rm 12.8; 1 Co 14.3; 1 Ts 5.11, 14-22; Hb 10.24,25, etc);
- Doadores (At 2.44, 45; 4.34, 35; 11.29, 30; 1 Co 16.1-4; 2 Co 8.9; Ef 4.28; 1 Tm 6.17-19; Hb 13.16; 1 Jo 3.16-18);
- Consoladores ( Rm 12.8; 2 Co 1.3-7)
Curiosamente, no texto do mesmo comentário (p. 1241) que trata sobre Ef 4.11, lemos:
"[...] Paulo aqui faz uma distinção (e também em outras passagens) entre os dons da graça concedido pelo Espírito aos crentes individualmente (4.7, 8; cf. 1 Co 12.4-11) e aquelas cinco categorias de pessoas competentes escolhidas pelo próprio Senhor "para proclamar a Palavra e liderar" (Lincoln, 249) sua Igreja universalmente (Ef 4.11; cf. 1 Co 12.28).
Dessa forma, no comentário do texto de Ef 4.11 os chamados dons ministeriais são delimitados, enquanto que no gráfico apresentado eles são ampliados!?
As atividades acima relacionadas, que aparecem no gráfico citado, me parecem mais com aquelas manifestações sobrenaturais da parte do Espírito Santo através dos dons, definidas pelo pastor Antônio Gilberto em sua obra Verdades Pentecostais: como obter e manter um genuíno avivamento pentecostal nos dias de hoje, CPAD, (pg. 69):
"Ministérios. Ou diakonais (1 Co 12.5). Isso fala de serviço, trabalho e ministério prático. São ministrações sobrenaturais do Espírito através dos membros da igreja como um corpo (1 Co 12.12-27)."
Em termos concretos, como se sustenta no contexto bíblico de 1 Co 12-14 a distinção entre o chamado "dom ministerial de profeta" e o "dom de profecia"?
Para fins de buscar uma solução, teríamos que no mínimo fazer a seguinte afirmação: Há no NT profetas ministeriais efetivos e profetas circunstanciais. Dessa forma, teríamos no NT duas categorias de profetas.
Afirmo isto, pelo fato de que em 1 Co 14.29-32, 37, no contexto dos "dons espirituais", o que profetiza é também chamado de "profeta" (gr. prophetes).
O DOM DE PROFECIA E O DOM DE LÍNGUAS SEGUIDO DE INTERPRETAÇÃO
Um outro problema em termos práticos e teóricos, diz respeito ao entendimento sobre a profecia (gr. propheteía) e dom de línguas (gr. genê glosson) seguido de interpretação (gr. ermeneía glosson).
Vamos ao culto, e lá um irmão ou irmã fala em línguas e em seguida interpreta, ou a interpretação é dada por outro. Considerando que a mensagem em línguas, seguida de interpretação, geralmente contém elementos preditivos, exortação, edificação e consolo para a igreja, poderíamos chamar isto de profecia (como geralmente é chamado)? Ou chamaríamos de uma mensagem profética ministrada através de línguas com interpretação? Dessa forma, não estaríamos eliminando qualquer diferença substancial entre estes dons?
Sobre isto, o Comentário Pentecostal do Novo Testamento (CPAD) afirma em sua pág. 1026:
"A glossolalia interpretada e a profecia são igualmente válidas por edificarem a congregação: 'O que profetiza é maior do que o que fala línguas estranhas, a não ser que também [as] interprete'. Paulo não diz aqui que as líguas mais a interpretação são equivalentes à profecia ou, formando a frase de um modo diferente, que a interpretação seja uma profecia (como Barret argumenta, 316). Esta visão, na realidade, elimina qualquer diferença substancia entre estes dons (Lim, 144). De acordo com Carson, "parece que as línguas podem ter a mesma importância funcional da profecia se houver intérprete presente... Isto não significa que não exista nenhuma diferença entre as línguas mais a interpretação, e a profecia. [...] Bittlinger acrescenta: 'O dom das línguas, quando interpretadas, tem o mesmo valor da profecia na edificação da igreja' (101)."
Os comentários acima, nos remetem para a necessidade de uma análise mais crítica, e menos reprodutiva das questões doutrinárias aqui colocadas, para dessa forma haver maior clareza e distinção acerca dos conceitos e definições sobre os dons do Espírito.
Penso, falando em termos teológicos, que na condição de pentecostais assembleianos, já estamos maduros para uma discussão neste nível.
REFERÊNCIAS
- Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD.
- Comentário Bíblico Pentecosta do Novo Testamento, CPAD.
- O Novo Testamento Interlinear, SBB.
- Verdades Pentecostais, CPAD.
kleber de sá
Em Cristo Jesus
Matéria extraida do blog do pastor Altair Germano
Postado por ALTAIR GERMANO
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