quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Unindo-se a Uma Igreja à Moda Antiga: de Clemente a Egeria

Michael A. G. Haykin obteve sua graduação em Filosofia, seu Mestrado em Religião e seu Doutorado (Th.D) em História da Igreja. Server como catedrático em História da Igreja e Espiritualidade Bíblica no Southern Baptist Theological Seminary, em Louisville (Kentucky). É o autor de Palavras de Amor: a Doçura do Amor e do Casamento nas Cartas de Cristãos (Editora Fiel, 2011) e Redescovering the Church Fathers (Crossway, 2011).

Como uma pessoa se unia a uma igreja nos primeiros dias do cristianismo? De um ponto de vista, a pergunta é fácil de responder. Em palavras simples, o batismo do crente era o rito de entrada na igreja até ao começo do século IV.
No entanto – e isto não é surpreendente –, havia algo mais.
Confissão e Batismo
O Novo Testamento descreve a igreja como uma congregação de crentes. O que eles criam? Como os apóstolos ensinaram, eles criam que Jesus é Senhor e que ele havia ressuscitado dentre os mortos (1 Co 12.3; 1.2; Rm 10.9). Além disso, eles criam que Jesus é o próprio Deus em carne (1 Jo 4.1-6). E criam na Trindade (Mt 28.19; 2 Co 13.14; Ef 4.4-6).
Para se unir a uma igreja, uma pessoa tinha de confessar formalmente este conjunto de verdades, "a fé" (Jd 3; 1 Tm 1.19), que também incluía outras crenças essenciais, como a volta de Cristo. Isso acontecia normalmente, conforme parece, na ocasião do batismo. Durante o batismo, um indivíduo afirmaria um tipo de credo que continha esses elementos essenciais da fé cristã e daria a sua anuência a esse credo (cf. 1 Tm 6.12).
Assim, inspirados por exemplos do Novo Testamento (ver Ef 4.4-6), afirmações de credos emergiram na era pós-apostólica. Por exemplo, Irineu (c. 130-200), bispo de Lion, citou o que pode ter sido a declaração de fé de sua própria igreja na obra Contra Heresias (180), sua defesa do cristianismo contra o gnosticismo.
A declaração começa por enfatizar que, em contrário à opinião do gnosticismo sobre o mundo, há "um único Deus, o Pai todo-poderoso, Criador do céu, da terra, do mar e tudo que neles há". Essa confissão prossegue e enfatiza que há também "um único Cristo Jesus, o Filho de Deus, que se encarnou para a nossa salvação", que sofreu, morreu, foi ressuscitado dos mortos, "ascendeu ao céu na carne" e virá novamente "do céu, na glória do Pai". O gnosticismo negava esses pontos, os quais são, todos, essenciais ao cristianismo apostólico. E uma pessoa tinha de afirmar essa declaração para ser recebida na igreja de Lion.
A necessidade de Catecismo
À medida que a igreja evangelizava o mundo greco-romano, encontrava pessoas que estavam preparadas para crer em Cristo Jesus como Salvador e Senhor, mas que desconheciam a Escritura e a teologia que ela continha. Por isso, a igreja precisava instruir ou catequizar as pessoas nas afirmações fundamentais do credo cristão. A igreja precisava ensinar às pessoas assuntos como a criação realizada por Deus e a vida de virtude que flui de uma verdadeira confissão. A catequese tinha, portanto, componentes bíblicos, doutrinários e morais.
Assim, por volta do final do século II, desenvolveram-se catecismos e o processo de catequizar. Por exemplo, o único outro escrito existente de Irineu é um catecismo, Demonstração da Pregação Apostólica (início dos anos 190). A primeira metade desta obra detalha a história da salvação, e a segunda metade apresenta provas da verdade do cristianismo com base no Antigo Testamento.
No século seguinte, há uma evidência clara – por exemplo, nos escritos de Hipólito de Roma (c. 170-230) –, de que a catequização podia levar três anos. E, embora a pessoa que estava sendo instruída (chamada de catecúmeno) fosse considerada um cristão, ela não podia tomar a Ceia do Senhor enquanto não fosse batizada. Como assegurou Justino Mártir (que morreu cerca de 165), autor cristão do século II, "ninguém tem a permissão de participar" da Ceia do Senhor "senão aquele que crê ser verdade o que ensinamos, aquele que foi lavado... e vive exatamente da maneira como Cristo nos legou" (Primeira Apologia, 66).
Durante o período de catequese, havia também um tempo em que os catecúmenos podiam fazer perguntas ao instrutor, que era freqüentemente um bispo. Egeria (que floresceu em 380-384), autora do final do século IV, observou isso quando visitou Jerusalém. Ela destacou que o resultado dessa catequização era que todos os crentes das igrejas em Jerusalém eram capazes de seguir as Escrituras quando elas eram lidas nos cultos da igreja. Foi somente com a propagação do batismo infantil no séculos V e VI que esse processo de catecismo cristão entrou em declínio.
Um passado utilázel
Quando estudamos o passado, não devemos privilegiar as questões que nossas próprias circunstâncias induzem. O passado tem de ser entendido, primeiramente, em seus próprios termos, em relação às questões que dominaram aquela época. No entanto, Deus nos deu a história como um meio de instrução (poderíamos, por exemplo, estabelecer uma analogia com Romanos 15.4). Portanto, a busca por um "passado utilizável" que lança luz sobre o presente é um exercício legítimo.
O que a investigação histórica que acabamos de realizar significa para nossa situação atual? Uma coisa é clara: muitas partes de um Ocidente outrora cristão estão se paganizando rapidamente. Por conseguinte, o tipo de instrução bíblica, doutrinária e moral que a igreja primitiva achou necessária está se tornando novamente essencial para nós.
Como aconteceu nos primeiros dias da fé cristã, acontece novamente hoje: entrar numa igreja local deve ser por meio de catecismo, credo e batismo – e nessa ordem.
 
http://www.editorafiel.com.br/
http://www.9marks.org/

Nenhum comentário:

Postar um comentário