CONTRASTES E
CONFLITOS
EM JOÃO
CAPITULO 8
A história da mulher flagrada em adultério faz parte
das Escrituras? Em caso afirmativo, onde se encaixa no relato dos Evangelhos?
João 7:53 a 8:11 não aparece em alguns dos manuscritos antigos e, nos casos em
que aparece, nem sempre se encontra nessa parte do Evangelho de João.
A maioria dos estudiosos concorda que essa passagem faz
partes das Escrituras inspiradas (de acordo com F. F. Bruce, é "um fragmento
de material autêntico do Evangelho"), onde quer que seja colocada.
Para muitos de nós, essa história encaixasse perfeitamente aqui! Na verdade, o
desenrolar de todo o capítulo pode muito bem ter se originado nesse
acontecimento extraordinário no templo.
Sem dúvida, a declaração de Jesus sobre ser a Luz do
mundo (Jo 8:12) é cabível nesse contexto, como também o são suas palavras sobre
o verdadeiro e o falso julgamento (J0 8:15, 16, 26). A frase repetida: "perecereis
no vosso pecado" (Jo 8:21, 24) pode claramente ser relacionada ao
julgamento da mulher, e, na verdade, o capítulo termina com uma tentativa de
apedrejar Jesus, um paralelo perfeito com o episódio inicial.
A transição de João 7:52 para 8:12 seria brusca demais
sem essa passagem. Jesus viu-se novamente em conflito com os líderes religiosos
judeus; dessa vez, porém, prepararam uma armadilha para ele na esperança de
conseguir provas suficientes para prendê-lo e se livrar dele. Sua conspiração
não deu certo, mas foi seguida de uma controvérsia. Neste capítulo, há uma
série de contrastes que revelam a bondade de Cristo e a perversidade humana.
(GRAÇA E
LEI - João 8:11)
A Festa dos Tabernáculos terminara, mas Jesus aproveitou
a oportunidade para ministrar aos peregrinos que se encontravam no templo.
Durante a festa, a notícia espalhou- se rapidamente: Jesus não apenas frequentava
o templo, como ensinava publicamente naquele local (ver Lc 21 :37), no pátio
das mulheres, onde ficava a tesouraria do templo (Jo 8:20). Os escribas e
fariseus sabiam onde ele estaria, de modo que se uniram para tramar contra ele.
Dificilmente um casal era pego no ato de adultério. Imaginamos se o homem (que,
em momento algum, foi acusado!) fazia par- te da conspiração.
De acordo com a Lei, ambas as partes culpadas deveriam
ser apedrejadas (Lv 20:10; Dt 22:22) e não apenas a mulher. É um tanto suspeito
que o homem tenha sido liberado. Os escribas e fariseus trataram a questão de
maneira brutal, interrompendo Jesus enquanto ensinava e empurrando a mulher
para o meio do povo. É evidente que os líderes judeus tentavam colocar Jesus em
uma situação sem saída.
Se ele dissesse que a mulher deveria ser apedrejada,
perderia sua reputação de "amigo dos publicanos e pecadores". Sem
dúvida, o povo o abandonaria e não aceitaria sua mensagem bondosa de perdão.
Mas, se dissesse que a mulher não deveria ser apedrejada,
estaria transgredindo a Lei abertamente e poderia ser preso. Em mais de uma
ocasião, os líderes religiosos tentaram jogar Jesus contra Moisés e, nessa
situação, pareciam ter encontrado uma provocação perfeita (ver Jo 5:39-47; 6:32;
7:40 ).
Em vez de julgar a mulher, Jesus julgou os juízes!
Certamente se indignou com a maneira como a trataram e com o fato de esses
hipócritas condenarem outra pessoa em lugar de julgarem a si mesmos. Não sabemos
o que estava escrevendo no chão de terra do templo. Será que simplesmente
lembrava àqueles homens que os Dez Mandamentos haviam sido escritos "pelo
dedo de Deus" (fx 31:18), e que ele era Deus? Ou, quem sabe, os lembrava
da advertência em Jeremias 17:13?
De acordo com a Lei judaica, os acusadores deveriam
atirar as primeiras pedras (Dt 17:7). Jesus não pedia que homens sem pecado
julgassem a mulher, pois ele era a única Pessoa sem pecado ali presente. Se
nossos juízes tivessem de ser perfeitos, os bancos dos tribunais estariam
vazios. Antes se referia ao pecado específico da mulher, que poderia ser
cometido tanto com o corpo quanto com o coração (Mt 5:27-30).
Condenados pela própria consciência os acusadores
saíram de cena em silêncio, deixando Jesus a sós com a mulher. Ele a perdoou e
advertiu a que não pecasse mais (Jo 5:14).
Não se deve interpretar esse acontecimento como um
exemplo de que Jesus não tratava o pecado com rigor ou de que desrespeitava a
Lei. A fim de perdoar essa mulher, um dia Jesus teve de morrer por seus pecados.
Além disso, Jesus cumpriu a Lei com tanto zelo que ninguém pôde acusá-lo
justificadamente de opor-se a seus ensina- mentos nem de menosprezar seu poder.
Ao aplicar a Lei à mulher e não a si mesmos, os líderes
judeus transgrediam tanto a letra quanto o espírito da Lei - e pensavam estar
defendendo Moisés ! A Lei foi dada para revelar o pecado (Rm 3:20), e é preciso
ser condenado pela Lei antes de ser purificado pela graça de Deus.
A Lei e a graça
são complementares, não concorrentes. Ninguém jamais foi salvo por guardar a
Lei, mas ninguém foi salvo pela graça sem que antes tivesse sido convencido de
seus pecados pela Lei. Antes de haver conversão, é preciso haver convicção da
culpa. O perdão de Cristo em sua graça também não é uma desculpa para pecar.
Sua ordem foi: "Vai e não peques mais".
"Contigo, porém, está o perdão, para que te temam" (SI
130:4).
Essa experiência do perdão repleto de graça deve servir
de motivação para o pecador penitente viver em santidade e em obediência para a
glória de Deus.
Naquele que perdoou todos os nossos pecados; Cristo
Jesus.
Kleber Santos
Comentário
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