terça-feira, 17 de setembro de 2013

CONTRASTES E CONFLITOS EM JOÃO CAPITULO 8


CONTRASTES E CONFLITOS  
EM JOÃO CAPITULO 8

A história da mulher flagrada em adultério faz parte das Escrituras? Em caso afirmativo, onde se encaixa no relato dos Evangelhos? João 7:53 a 8:11 não aparece em alguns dos manuscritos antigos e, nos casos em que aparece, nem sempre se encontra nessa parte do Evangelho de João.

A maioria dos estudiosos concorda que essa passagem faz partes das Escrituras inspiradas (de acordo com F. F. Bruce, é "um fragmento de material autêntico do Evangelho"), onde quer que seja colocada. Para muitos de nós, essa história encaixasse perfeitamente aqui! Na verdade, o desenrolar de todo o capítulo pode muito bem ter se originado nesse acontecimento extraordinário no templo.

Sem dúvida, a declaração de Jesus sobre ser a Luz do mundo (Jo 8:12) é cabível nesse contexto, como também o são suas palavras sobre o verdadeiro e o falso julgamento (J0 8:15, 16, 26). A frase repetida: "perecereis no vosso pecado" (Jo 8:21, 24) pode claramente ser relacionada ao julgamento da mulher, e, na verdade, o capítulo termina com uma tentativa de apedrejar Jesus, um paralelo perfeito com o episódio inicial.

A transição de João 7:52 para 8:12 seria brusca demais sem essa passagem. Jesus viu-se novamente em conflito com os líderes religiosos judeus; dessa vez, porém, prepararam uma armadilha para ele na esperança de conseguir provas suficientes para prendê-lo e se livrar dele. Sua conspiração não deu certo, mas foi seguida de uma controvérsia. Neste capítulo, há uma série de contrastes que revelam a bondade de Cristo e a perversidade humana.

(GRAÇA E LEI - João 8:11)

A Festa dos Tabernáculos terminara, mas Jesus aproveitou a oportunidade para ministrar aos peregrinos que se encontravam no templo. Durante a festa, a notícia espalhou- se rapidamente: Jesus não apenas frequentava o templo, como ensinava publicamente naquele local (ver Lc 21 :37), no pátio das mulheres, onde ficava a tesouraria do templo (Jo 8:20). Os escribas e fariseus sabiam onde ele estaria, de modo que se uniram para tramar contra ele. Dificilmente um casal era pego no ato de adultério. Imaginamos se o homem (que, em momento algum, foi acusado!) fazia par- te da conspiração.

De acordo com a Lei, ambas as partes culpadas deveriam ser apedrejadas (Lv 20:10; Dt 22:22) e não apenas a mulher. É um tanto suspeito que o homem tenha sido liberado. Os escribas e fariseus trataram a questão de maneira brutal, interrompendo Jesus enquanto ensinava e empurrando a mulher para o meio do povo. É evidente que os líderes judeus tentavam colocar Jesus em uma situação sem saída.

Se ele dissesse que a mulher deveria ser apedrejada, perderia sua reputação de "amigo dos publicanos e pecadores". Sem dúvida, o povo o abandonaria e não aceitaria sua mensagem bondosa de perdão.

Mas, se dissesse que a mulher não deveria ser apedrejada, estaria transgredindo a Lei abertamente e poderia ser preso. Em mais de uma ocasião, os líderes religiosos tentaram jogar Jesus contra Moisés e, nessa situação, pareciam ter encontrado uma provocação perfeita (ver Jo 5:39-47; 6:32; 7:40 ).

Em vez de julgar a mulher, Jesus julgou os juízes! Certamente se indignou com a maneira como a trataram e com o fato de esses hipócritas condenarem outra pessoa em lugar de julgarem a si mesmos. Não sabemos o que estava escrevendo no chão de terra do templo. Será que simplesmente lembrava àqueles homens que os Dez Mandamentos haviam sido escritos "pelo dedo de Deus" (fx 31:18), e que ele era Deus? Ou, quem sabe, os lembrava da advertência em Jeremias 17:13?

De acordo com a Lei judaica, os acusadores deveriam atirar as primeiras pedras (Dt 17:7). Jesus não pedia que homens sem pecado julgassem a mulher, pois ele era a única Pessoa sem pecado ali presente. Se nossos juízes tivessem de ser perfeitos, os bancos dos tribunais estariam vazios. Antes se referia ao pecado específico da mulher, que poderia ser cometido tanto com o corpo quanto com o coração (Mt 5:27-30).

Condenados pela própria consciência os acusadores saíram de cena em silêncio, deixando Jesus a sós com a mulher. Ele a perdoou e advertiu a que não pecasse mais (Jo 5:14).

Não se deve interpretar esse acontecimento como um exemplo de que Jesus não tratava o pecado com rigor ou de que desrespeitava a Lei. A fim de perdoar essa mulher, um dia Jesus teve de morrer por seus pecados. Além disso, Jesus cumpriu a Lei com tanto zelo que ninguém pôde acusá-lo justificadamente de opor-se a seus ensina- mentos nem de menosprezar seu poder.

Ao aplicar a Lei à mulher e não a si mesmos, os líderes judeus transgrediam tanto a letra quanto o espírito da Lei - e pensavam estar defendendo Moisés ! A Lei foi dada para revelar o pecado (Rm 3:20), e é preciso ser condenado pela Lei antes de ser purificado pela graça de Deus.

 A Lei e a graça são complementares, não concorrentes. Ninguém jamais foi salvo por guardar a Lei, mas ninguém foi salvo pela graça sem que antes tivesse sido convencido de seus pecados pela Lei. Antes de haver conversão, é preciso haver convicção da culpa. O perdão de Cristo em sua graça também não é uma desculpa para pecar.

Sua ordem foi: "Vai e não peques mais". "Contigo, porém, está o perdão, para que te temam" (SI 130:4).

Essa experiência do perdão repleto de graça deve servir de motivação para o pecador penitente viver em santidade e em obediência para a glória de Deus.

 

Naquele que perdoou todos os nossos pecados; Cristo Jesus.

Kleber Santos

 

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