Chamado para Apóstolo
por:Dr.
David Martyn Lloyd-Jones
“...Servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o
evangelho...” (Romanos 1:1)
Neste texto vemos 3 declarações:
1) SERVO DE CRISTO - Paulo enfatiza a pessoa de Cristo. Jesus é o centro
da vida do apóstolo e por isso ele O serve. Antes ele o perseguia quando
perseguia os cristãos (“Saulo, Saulo, por que me persegues?” Atos 9:4).
Mas Paulo não apenas fala de ser servo de Jesus, mas que Jesus é o
Messias, O Cristo, O Ungido de Deus para realizar a obra salvífica do seu povo.
Paulo sempre fala de Jesus como aquele que padeceu na cruz; era sua pregação:
Cristo crucificado! Este era o propósito de Jesus ao vir ao mundo. Mas o
apóstolo sempre dizia que este Jesus Salvador era o Messias prometido, o
Cristo.
Por isso Paulo afirma que Jesus Cristo é o tema da sua pregação -
Cristo e este crucificado. Este é um grande ensino para nós pois o que deve
caracterizar um servo do Senhor é que ele proclame Cristo crucificado. Deve ser
esta a nossa prova de fé. Ele é o centro da nossa vida? O centro da nossa
mensagem ao mundo? Paulo era assim. Só nos primeiros 14 versículos da Epístola
aos Efésios Paulo menciona a palavra Jesus 15 vezes. Acontece isso conosco? Ou
preferimos contar nossas experiências achando que com isso pregamos o
evangelho? Isto não é evangelho! Evangelho é Cristo. Quanto mais crescemos na
graça, menos falamos de nós e mais falamos de Jesus Cristo.
Por isso Paulo se vangloriava em ser servo de Jesus . A palavra
correta no original é “escravo” (servo). O que ele está afirmando é que é
“escravo de Cristo”. Quando Paulo diz em I
Co 6:19-20, que somos templo do Espírito Santo conclui dizendo que não
somos mais de nós mesmos porque fomos “comprados por preço”. É como se ele
estivesse dizendo: “Vocês não percebem que seus corpos são templo do Espírito
Santo e não são de vocês mesmos? Que não têm o direito de fazer o que bem
desejarem com seus corpos pois foram comprados pelo preço do sangue de Cristo?
Não percebem que foram libertos da escravidão pelo precioso sangue de Cristo?
Foram livres da escravidão de satanás para servirem ao Deus vivo e
verdadeiro?”. Isto é o que significa ser redimido.
Nós nascemos escravos do diabo (Ef. 2:1-3) e fomos libertos por aquele que é o único que pode nos
libertar por aquele que é o caminho que pode nos libertar - Cristo e seu
precioso sangue. É o que Pedro diz em I
Pedro 1:18-19. Somos agora livres de Satanás e pertencemos a Cristo. Ele
nos comprou, agora somos cativos dEle. Ele é nosso Senhor. Concluímos que jamais somos livres. Livres, sim, de Satanás e do
pecado, mas escravos de Cristo, a Ele servimos.
Possivelmente quando Paulo disse: “Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Cl 2:20), estava se
referindo a esta escravidão à pessoa a quem se ama e se honra. Em II Co 2:14, Paulo usa a figura dos
súditos de um grande general que depois de ter feito uma grande conquista,
entra triunfante na cidade em um desfile militar com as pessoas capturadas na
guerra por este general que estão em volta dele.
Paulo diz que ser escravo de Cristo o constrange a pregar e o que
seria dele se não pregasse o evangelho. Tudo por devoção a Cristo, porque Ele o
livrou do mercado de escravos, o conquistou para Si. Agora é um escravo
voluntário. Um escravo que ama seu Senhor. Este é um grande exemplo para nós.
Aliás isto aconteceu conosco. Aconteceu mesmo? Você sente-se assim? Você não
mais se pertence, mas pertence ao seu Senhor?
2)
“CHAMADO PARA SER APÓSTOLO”.
Temos de entender bem estas duas palavras. Isso por causa do contexto
em que vivemos hoje. Há muita confusão na Igreja de hoje.
O que é
um apóstolo? Paulo, no sentido geral era um servo de Cristo, mas num sentido
especial era um apóstolo.
Por que
diz que foi “chamado” para ser apóstolo? Porque Paulo se preocupa logo no início desta Epístola em dizer
que foi chamado para ser apóstolo?
Bem, muitas pessoas naquela época estavam questionando Paulo como apóstolo,
eram seus opositores e assim Paulo era difamado. Era considerado um falso
apóstolo. Estava apenas representando. Diziam que ele nunca havia estado com
Jesus. Mas Paulo diz claramente e com vigor que era tão apóstolo como os doze.
O que é
um apóstolo? É
um ofício muito especial e peculiar. Uma prova disto é que Jesus chamou os 12
discípulos (Mt 10) e “...deu-lhes poder
sobre os espíritos imundos, para expulsarem, e para curarem toda enfermidade e
todo mal”. No v.1, Mateus os chama de discípulos e no versículo 2 muda para
apóstolos. Por que isso? Porque nem todo discípulo era apóstolo. Só alguns
discípulos tornaram-se apóstolos.
Provamos isso ao ler Lucas 6:12-13. “...chamou a si os seus
discípulos, e escolheu doze dentre eles, aos quias deu também o nome de
apóstolos”. Somente doze dos discípulos foram nomeados e escolhidos.
A palavra “apóstolo” vista nos dicionários é alguém “enviado”. Às
vezes este termo é usado com este significado no Novo Testamento, porém é mais
que isto. O termo diz que é um enviado com uma missão a quem são dados poderes
para cumpri-la. Na Bíblia, “apóstolo” é alguém escolhido e enviado a uma missão
especial como representante autorizado de quem o envia.
Quais as
marcas e sinais de um apóstolo?
1. Teria
que ser testemunha do Senhor ressurreto.
Em Atos vemos os apóstolos reunidos no cenáculo conversando sobre
quem substituiria a Judas Escariotes. No cap. 1:21-22 lemos: “É necessário
pois, que, dos homens que nos acompanham todo o tempo que o Senhor Jesus andou
entre nós , começando no batismo de João, até ao dia em que dentre vós foi
levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição”.
Paulo diz que viu Jesus ressurreto: “Não sou, porventura livre?
Não sou apóstolo? Não vi a Jesus, Nosso Senhor?” (I Co 9:1). Era ele dizendo
que vira Jesus ressurreto no caminho de Damasco e era testemunha disto.
2. O
apóstolo tinha de ter um chamado especial para exercer este ofício. Ele foi
chamado pelo próprio Senhor.
3. Era
alguém a quem foi dada autoridade e comissão de operar milagres. Isso fica bem claro em II Co
12:12 -“Pois as credenciais do meu apostolado foram manifestados no meio de vós
com toda a persistência, por sinais prodígios e poderes miraculosos”. Era como
se ele dissesse: “Como vocês podem questionar meu ofício de apóstolo se as
minhas credenciais foram apresentadas claramente entre vós”. Sinais, milagres e
atos maravilhosos.
4. Os
apóstolos tinham poder para dar e comunicar dons espirituais a outros; podiam transmitir o Espírito
Santo pela imposição das mãos (Atos 8:17). Isso significava sinal de autoridade
da sua comissão.
5. O
apóstolo tinha autoridade para ensinar e definir a doutrina firmando as pessoas
na verdade.
6.
Tiveram autoridade para estabelecer a ordem nas igrejas. Nomeavam os presbíteros,
decidiam questões disciplinares e questões doutrinárias ( ensino e doutrina.
Falavam com autoridade do próprio Jesus: “...mas o Consolador, o Espírito
Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e
vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”(Jo 14:26).
Tudo isso
tem conseqüências importantes:
a) Falavam com autoridade vinda de Deus.
b) Eram representantes de Cristo e as pessoas os ouviam como quem
falava da parte de Deus. Por isso Paulo diz aos crentes da igreja de
Tessalônica: “...é que tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é
de Deus, acolhestes não como palavra de homens e, sim, como em verdade é a
palavra de Deus...”(I Ts 2:13). Paulo está lembrando que eles não estavam
ouvindo (lendo) palavras de homens. Deus dera autoridade para edificar não só
aos crentes de Tessalônica, mas de Corinto: “...a respeito da nossa autoridade,
a qual o Senhor nos conferiu para edificação...” (II Co 10:8). Ou ainda:
“Portanto, escrevo estas cousas, estando ausente, para que, estando presente,
não venha a usar de rigor segundo a autoridade que o Senhor me conferiu para
edificação...” (II Co 13:10). Era uma autoridade excepcional que somente Deus
podia dar; uma palavra inspirada, infalível.
Uma prova disso se vê quando Pedro diz: “...como igualmente o
nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi
dada...nas quais há certas cousas difíceis de entender, que os ignorantes e
instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras”... (outras
Escrituras) - II Pedro 3:16. Aqui Pedro está igualando o que Paulo escreveu às
demais Escrituras do VT. Pedro está dizendo que Paulo escreveu Bíblia.
As palavras escritas pelos apóstolos têm autoridade divina - Os
apóstolos foram comissionados pelo Senhor Jesus Cristo e foram guiados e
dirigidos pelo Espírito Santo. São palavras divinamente inspiradas.
Lembremo-nos que foi Jesus que deu autoridade aos seus servos, os apóstolos,
como Paulo. Se alguém disser que só crê no que Jesus disse, responda dizendo
que esta afirmação é contraditória pois o próprio Jesus que deu autoridade ao
Seu servo, aos apóstolos que reconheceram, como Pedro, que Paulo escrevera de
forma tão inspirada como o VT.
Quando a igreja primitiva chegou a definir e determinar o Cânon do
Novo Testamento, pois havia muitos escritos cristãos, o Espírito Santo levou a
Igreja a decidir desta maneira: ela dizia que, se um documento que pretendesse
ser um Evangelho ou Epístola, e não pudesse ser rastreado direta ou
indiretamente, até as suas raízes num apóstolo, alguém com autoridade
apostólica, ele não devia ser incluído. A prova era a apostolicidade, o caráter
apostólico na determinação do Cânon do Novo Testamento. Por que? Porque um
apóstolo é um homem dotado de autoridade única, autoridade de fazer doutrina,
de fazer Bíblia. O Senhor guiou a Paulo pelo Seu Espírito Santo, o Senhor o
chamou para ser apóstolo.
Por que Paulo se diz “chamado para apóstolo” e logo no início da
Epístola? Sem dúvida Paulo queria deixar bem claro para os crentes de Roma que
ele era verdadeiramente um apóstolo. Como seria bom que hoje, os que se dizem
apóstolos mostrassem as credenciais que Paulo mostrou. Sem dúvida não teriam
estas credenciais e por isso não são Apóstolos. Na carta que ele escreve à
igreja da Galácia, Paulo é mais enfâtico ainda quando diz: “Paulo, apóstolo,
não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo
e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos...” (Gl. 1:1).
Paulo aqui está dizendo àqueles crentes que não pensem de forma
errada que ele mesmo havia se declarado apóstolo como hoje se faz. Não! Os
falsos mestres é que fazem isso. Ele diz claramente que é apóstolo, “não da
parte de homens, nem por intermédio de homens, mas por Jesus Cristo e por Deus
Pai”. Paulo foi “chamado”, escolhido pelo ato soberano de Jesus Cristo. Havia
sido chamado da mesma forma que os doze e tinha a mesma autoridade. Paulo diz
isso de si mesmo.
Há algo admirável aqui. O Senhor escolhe um homem para apóstolo,
quando antes este mesmo homem tinha sido um dos seus maiores inimigos. Um homem
com quem Jesus não estivera durante Seu período aqui no mundo, quando
encarnado; alguém que não ouvira Seu ensino, não vira Seus milagres, que não O
vira na cruz, que não estivera com os doze no cenáculo quando lhes apareceu
após a ressurreição; era um blasfemador, um perseguidor do cristianismo. Como
pode ser isto? Mas o Senhor se revela a Paulo e o chama, exatamente como chamou
aos outros. Lemos em 1Co 15:7 - “Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por
todos os apóstolos e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como
por um nascido fora de tempo”. Ele está dizendo como Jesus lhe aparecera e o
comissionara para ser apóstolo, mesmo depois do Pentecoste, mesmo depois do
Senhor fazer várias revelações a pessoas especialmente escolhidas. Paulo vai a
Damasco “respirando ameaças e mortes” e o Senhor aparece e o comissiona
dizendo: “Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci,
para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como
daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios,
para os quais eu te envio para lhes abrir os olhos e convertê-los das trevas
para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles
remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim”
(Atos 26:16-18). Ele mesmo diz que não foi “desobediente à visão celestial” que
teve. Um comissão de proclamar a verdade de forma autoritativa.
7. Não
podemos esquecer desta outra marca do apostolado: A verdade lhe foi ensinada
pessoalmente pelo Senhor. Em Gálatas 1:11-12 Paulo diz: “Faço-vos, porém,
saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque
eu não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus
Cristo”. Este evangelho não foi ensinado por outra pessoa,; se fosse ele não
seria apóstolo. Ele ainda diz nesta epístola aos Gálatas que foi separado desde
o ventre materno pela graça de Deus, quando revelou Jesus para que O pregasse
entre os gentios e para isso não consultou a “carne e sangue”, nem subiu à
Jerusalém para os que já eram apóstolos antes dele mas partiu para a Arábia e
depois voltou para Damasco. Três anos depois vai à Jerusalém para avistar-se
com Pedro (Gl.1:15-18). Ele vaia a Pedro, mas não para aprender com Pedro pois
era igual aos demais apóstolos pois a verdade lhe fora dada pessoalmente por
Cristo.
Por que isto é importante? Porque esta é uma credencial
apostólica: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei...”
(Co.11:23). Recebe diretamente de Jesus. Ele se iguala aos demais apóstolos
nisso: “Porque eu sou o menor dos apóstolos....mas pela graça de Deus sou o que
sou...portanto, seja eu, ou sejam eles, assim pregamos e assim crestes” (I Co
15:9-11). Ele foi tão apóstolo como Pedro. Ao comissioná-lo o Senhor o chamou
para ir aos gentios: “Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois,
que eu sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério” (Rm 11:13).
O que Paulo deseja, é que os crentes de Roma compreendam que ele é
realmente apóstolo de fato e de direito. Por que esta ênfase? Porque muitos
naquela época estavam se dizendo apóstolos. Em Apocalipse 2:2: “...puseste à
prova os que a si mesmo se declaram apóstolos e não são, e os achastes
mentirosos”. Isto ér muito prático pois estamos vivendo uma época em que muitos
estão se dizendo apóstolos ou que são da sucessão apostólica. Isso não existe.
A Igreja Católica não só afirma que o Papa é o vigário de Cristo, como também
faz outra reivindicação: da sucessão apostólica. Mas não só a Igreja Católica,
outros ramos ditos cristãos reivindicam esta sucessão apóstólica e isso é um
grande argumento para terem bispos, terem um episcopado. É verdade que muitos
que acreditam em bispos não aceitam a sucessão apostólica. Mas os Bispos da
Alta Igreja Anglicana e Católicos costumam dizer que não existe igreja sem
bispos, que isto é a essência da igreja.
Esta foi uma grande questão no século XVII e trouxe até divisão.
Os bispos se diziam e ainda se dizem sucessores diretos dos apóstolos, mas
“apóstolo’ é só aquele que viu e deu testemunho de Cristo ressurreto. A base
para este pensamento não é bíblica e sim fruto da tradição. Isso é impossível.
Além do mais Paulo diz que a Igreja Cristã é edificada “...sobre o fundamento
dos apóstolos é profetas...” (Ef 2:20). Com certeza não continuamos a construir
qualquer fundamento ou alicerce, pois é algo do começo da igreja. Esse alicerce
que foi fincado sobre os apóstolos e profetas não continua sendo edificado.
Desde que o Cânon se completou, não há mais necessidade de apóstolos. Não
esqueçamos de que o ensino apostólico era autoritativo. Os apóstolos falavam
como homens enviados por Deus de maneira tão inspirada como os profetas do
Velho Testamento.
Por isso, ao termos as Escrituras do Novo testamento — O Cânon do
NT — já temos todo ensino autorizado e não precisamos mais de apóstolos. Quando
o Cânon não estava completo, os apóstolos e aqueles que estavam ligados a eles
tinham uma função importantíssima: instruir a igreja que não tinha Bíblia
completa. Uma vez completo o Cânon os apóstolos não mais existem.
Outra coisa interessante é que Paulo em I Co 1:1 diz: “Paulo,
chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão
Sóstenes”. Sóstenes aqui é apenas citado como irmão. Não estaria Paulo sendo
muito egoísta? Por que ele não chamou “eu e Sóstenes?”. Paulo sabia que ele era
apóstolo e que Sóstenes, apezar de excelente e santo homem, não era apóstolo.
Por isso, a expressão; “e o irmão Sóstenes”. A mesma coisa acontece com
Timóteo, quando Paulo o trata como irmão mas diz antes: “Paulo, apóstolo de
Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Timóteo” (Cl 1:1). Paulo não diz:
“Timóteo é o homem que vem após mim, ele vai ser apóstolo por sucessão
apostólica e assim pelos séculos afora”. Timóteo era apenas irmão e Paulo
apóstolo, mas quando vemos em Fl.1:1 - “Paulo e Timóteo, servos de Cristo
Jesus, a todos os santos ...”. Quando Paulo se descreve como servo, ele e
Timóteo são iguais, pois os dois são servos no mesmo nível. Mas quanto ser
apóstolo, há uma diferença: Paulo o é e Timóteo não.
Toda pretensão de ser apóstolo hoje vai de encontro com o ensino
do Novo Testamento acerca do sentido do termo. Quando pulamos frases como esta
que mostra que Paulo foi chamado para ser apóstolo como um ofício especial que
não se repete, percebemos o quanto é grave negligenciar a doutrina e caímos nos
argumentos falsos dos falsos mestres.
“Separado
para o evangelho”
Não significa apenas que foi colocado à parte para pregar o
evangelho, mas Paulo está colocando seu chamado a um nível mais alto. Ele já
havia dito que Deus o chamara para ser servo, para ser apóstolo e agora para
ser “separado para o evangelho”.
O que significa ser “separado”? Significa “posta à parte”. Paulo
tinha sido “posto à parte” para o evangelho. O que significa isto? Bem, Paulo
está lembrando que antes ele era um perseguidor de Cristo, um fariseu de
fariseu. Ora a palavra “fariseu” significa “separado” e os fariseus se
colocavam à parte, não queriam nem ter contato físico com ninguém para não se
contaminarem, não queriam nada com publicanos e pecadores. Era como se Paulo
estivesse: “antes eu me separei a mim mesmo como fariseu, mas a grande verdade
sobre mim é que fui separado pelo próprio Deus para esta grande obra que tenho
o privilégio de realizar, parte da qual estou realizando agora quando escrevo
esta Epístola”. Paulo está dizendo que ele teve uma falsa separação e uma
verdadeira separação. Uma foi feita pelo homem e a outra foi feita por Deus.
Paulo havia sido chamado, “separado” desde o ventre materno
(“Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou (“separou” -
corrigida) pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o
pregasse entre os gentios...” (Gl 1:15-16). É isso que ele quer dizer. Que Deus
o separou “para o evangelho de Deus”. Paulo foi separado desde o ventre materno
para esta obra. O mesmo aconteceu com Jeremias (“Antes que eu te formasse no
ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e
te constituí profeta às nações” - Jm 1:5). O mesmo nós vemos acontecer com João
Batista.
Percebemos que esta separação é um grau muito maior do que um
simples chamado para ser “servo” como acontece com todos os cristãos. É verdade
que ele foi chamado para ser apóstolo, mas ele diz que não parou aí, Deus o
“separou para para o evangelho”. Deus pré ordenou Paulo para ser um pregador do
evangelho. Aqui chegamos à grandiosa doutrina da soberania de Deus. Deus na Sua
soberania o escolhe como Lhe apraz para executar um plano que Ele mesmo
elaborara. Não foi nada acidental que Paulo tivesse tido uma educação grega e
hebraica, que tivesse adquirido a condição de cidadão do Império Romano. Tudo
foi elaborado e decretado por Deus. E Deus fez isso no tempo determinado por
Ele.
Podemos concluir dizendo que a mesma coisa acontece com nossa
salvação. É algo maravilhoso e ao mesmo tempo humilhante. Segundo Paulo, nossa
salvação foi determinada antes da fundação do mundo (Ef.1). Antes da fundação
do mundo nossos nomes estavam escrito no livro da vida do Cordeiro (Ap 13:8).
Isso é algo assombroso! Assim como Deus separou Paulo para ser pregador do
evangelho antes dele mesmo nascer, o mesmo é verdadeiro em relação a nós
Especialmente aos pregadores ainda hoje. Será que os pregadores de hoje estão
advertidos quanto a isto? Será que estão exercendo esta função para a qual
foram “separados”?. Será que estão cumprindo os propósitos de Deus? Será que
estão se dando conta de que Deus está com Seus olhos sobre nós? Será que
estamos pregando o evangelho de Cristo? “Arrependei-vos e crede no evangelho”!!
Fonte: Monergismo.com
Em Cristo Jesus
Kleber Santos
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