quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O opróbrio da Igreja

O opróbrio da Igreja
Pós-Cristã e o Secularismo

"Bem vedes vós o triste estado em que estamos,
como a igreja está assolada,
e a sua credibilidade na sociedade queimada a fogo;
vinde, pois, e edifiquemos a igreja,
para que não estejamos mais em opróbrio"
(paráfrase e adaptação de Neemias 2.17)

Secularismo do latim saeculum significa “pertencente a uma era”, em sentido religioso é “aquilo que pertence ao mundo de nosso tempo e que não faz parte do que é sagrado ou espiritual”. Secular é o termo que empregamos para definir tudo aquilo que pertence à maneira de viver deste mundo que se opõe ou não comunga com os interesses espirituais do Reino de Deus.

O secularismo, hoje, é uma conseqüência da ação humanista. No secularismo o sagrado é relegado como algo obsoleto e arcaico. O valor do sagrado é questionado e ridicularizado. Não é difícil observar esta postura na sociedade pós-moderna. Certa apresentadora, em um dos seus quadros na televisão, em entremeio com danças e consultas exotéricas, clama o sangue de Jesus a fim de exorcizar a “fealdade” de alguns dos seus convidados. Nos bailes, as batidas frenéticas misturam-se com as letras evangélicas; é o pluralismo que já começa solapar a divisibilidade entre profano e sagrado. Enfim, a perda dos efeitos da religião cristã na sociedade secularizada “libera a difusão de um outro sagrado indistinto que se exprime no culto e exaltação irracionais de personalidades carismáticas, tais como, Pe. Marcelo Rossi, Pe. Zeca, ou políticos, até mesmo dinossauros sagrados da música, do cinema, da TV, do futebol, que caracterizam toda uma energia contida e reprimida para uma evasão de si. Quando não, mestres modernos da dessacralização, Marx, Nietzsche e Freud, são re-entronizados como novos deuses sagrados - referenciais intocáveis da vida. O declínio social da religião cristã na sociedade secularizada libera um sagrado difuso que é explorado imediatamente por astrólogos, adivinhos ou curandeiros, magos, verdadeiros camelôs do irracional. Assim, o projeto moderno de emancipação denuncia o sagrado como expressão humana em nome da racionalidade técnica, mas ele não consegue expulsar completamente do homem as trevas do irracional” [1].

Um pouco de História
No alvorecer da idade moderna ela foi profundamente influenciada pela religiosidade. Porém, no crepúsculo de seus projetos, é completamente marcada pelo ceticismo, racionalismo e secularismo. Os séculos XVI e XVII foram seguidos por essa frieza, formalidade e aridez espiritual e teológica, mas homens como Philipp Jakob Spener (1635-1705), e August Hermann Franke (1663-1727), pais do pietismo alemão, se opuseram a esse estado de morbidez, unindo intelectualidade com espiritualidade cristã. Mais tarde, no século XVIII, quando a vida religiosa britânica estava sendo solapada pelo tradicionalismo, racionalismo e a baixa freqüência aos templos, homens como John e Charles Wesley, William Morgam e George Whitefield, uniram-se em oração e através da consagração, aliados à erudição, moveram toda uma geração culminando o Grande Despertamento e Avivamento na Inglaterra e nos Estados Unidos. No atual quadro de “caatinga espiritual”, a igreja precisa de homens que consagrem suas vidas e combatam a secularização com suas próprias armas – a razão, o intelecto, sem, contudo, deixar a espiritualidade cristã, a fim de que o sagrado não seja dessacralizado.

O Secularismo na Igreja
Na Igreja, o secularismo transparece quando o espiritual começa a ceder ao profano. As motivações numa igreja presa pelos tentáculos da secularização são distintas de uma que ainda procura o sagrado. São características pertinentes a uma igreja secularizada.

Intenso Ritualismo
Práticas religiosas destituídas de glória divina. O ritualismo constitui-se falsa adoração e é pernicioso em seus objetivos (Is 29.13). Uma igreja secular dar mais ênfase ao social do que ao espiritual; ao entretenimento mais do que a oração e ao ensino das Escrituras; a forma em vez da essência; o frasco em vez do conteúdo (Mt 23.25). O intenso ritualismo é um desafio ao verdadeiro culto cristão. Jesus enfrentou este tipo de problema no ritualismo judaico, dos quais os fariseus eram os principais representantes. Chamo-os de hipócritas e sepulcros caiados, enquanto representantes de um culto (rituais de uma denominação - fariseus), e de uma religião (judaísmo), pois se apresentavam com seus trajes cerimoniais suntuosos, sua aparência piedosa ascética, mas que na realidade, “por dentro”, estavam cheios de hipocrisia, iniqüidade e imundícia (Mt 23.27-28). Escondiam-se na capa da religião e do cerimonialismo, até que Cristo os despiu publicamente. Apresentavam-se exteriormente como dignos e piedosos até que aquele que sonda os corações expôs a realidade latente de suas almas.

Exacerbada Carnalidade
Ignora as evidências espirituais e atribui às atividades materiais e carnais o cerne de seus esforços. Disputas acirradas pelo poder eclesiástico são sempre comuns numa igreja secularizada e carnal. Favoritismo, motivações financeiras e muitos outros podem constatar-se numa igreja aguilhoada pelos tentáculos da secularização.
Jesus denunciou a exacerbada carnalidade dos fariseus nos oito Ais de Mateus 23. Já nos versículos 16,17,19,24,26, Cristo mostra o estado espiritual dos fariseus - “cegos” - denunciando assim que o discernimento espiritual deles era profano, mentiroso e não passava de um mito. Extorquiam das viúvas as suas propriedades, seus bens, sua riqueza, convencendo-as de que fazendo assim estavam prestando culto a Deus, e, com isto, engordavam suas riquezas.
Uma igreja secularizada parte da premissa de que o Reino de Deus manifesta-se no “agora situacional” da vida humana, extorquindo o que podem dos fiéis com toda aparência de legalidade, esta que aparece sob o pretexto da piedade (Mt 23.14). É vergonhoso saber que existe entre nós pessoas desta estirpe maligna, o que, aliás, não é de se estranhar, pois os filhos do sacerdote Eli, responsáveis pelo culto e mediação entre Deus e os homens, eram chamados de “filhos de Belial” (1 Sm 2.12). Talvez isto possa ser considerado um extremo, mas não é. Assim como no tempo de Cristo as propriedades que eram doadas para o templo nunca chegaram sequer até ele, assim também muitas propriedades têm sido doadas para um fim sacro, mas nunca chegaram ao cofre da igreja - uma heterogeneidade - mistura de mau caráter com cristianismo.

Resta-nos o opróbrio


Em Cristo Jesus
Kleber Santos

por:Esdras Costa Bentho /blog:Teologia e Graça

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